Segundo Simpósio Internacional da ANAMT destaca troca de saberes com outros países

Segundo Simpósio Internacional da ANAMT destaca troca de saberes com outros países

A ANAMT realizou, nos dias 5 e 6 de maio, o 2º Simpósio Internacional de Saúde e Segurança do Trabalho ANAMT (II ANAMT International Symposium on Occupational Heath & Safety), com transmissão ao vivo pela plataforma da ANAMT Virtual.

A abertura oficial do evento teve a participação do Dr. Francisco Cortes Fernandes, presidente da ANAMT, Dra. Rosylane Rocha, diretora Científica da Associação, Dr. Ricardo Turenko, diretor de Relações Internacionais e Dr. Ruddy Facci, consultor e assessor da presidência da Associação. Participaram também Dra. Frida Fischer, membro do board da ICOH, e Dra. Diana Gagliardi, secretária Geral da Comissão Internacional de Saúde Ocupacional (ICOH) da Itália.

Dra. Diana Gagliardi parabenizou a equipe brasileira pelas atividades, envolvendo países da América Latina, além do simpósio internacional. “Mostra que há um grande movimento em torno da Medicina do Trabalho na região. Isso nos apoia e inclui a especialidade como algo importante para os trabalhadores locais”, disse.

Dra. Frida Fischer elogiou as realizações da anfitriã: “Me agrada muito saber que a ANAMT tem a iniciativa de trazer pesquisadores de vários lugares do mundo, online, que farão palestras sobre diversos assuntos importantes na área de saúde do trabalhador, desde questões ligadas à informática, Inteligência Artificial, novas práticas, até questões mais clássicas da área da saúde do trabalhador, quer seja ambiente de trabalho, fatores psicossociais, mineração e outros”, resumiu, ao chamar a atenção para o próximo Congresso ICOH 2024, de 28 de abril a 3 de maio, em Marrakesh, no Marrocos.

Dr. Ruddy Facci e Dr. Ricardo Turenko elogiaram o alto nível do II Simpósio. “Nosso agradecimento à ANAMT por mais esse evento internacional, que repetirá, com certeza, o sucesso do primeiro, com palestrantes trazendo informações com bastante utilidade”, frisou Dr. Facci.

Dr. Turenko ressaltou a oportunidade para os inscritos: “Vamos adquirir um grande conhecimento, que vai servir para crescermos cada vez mais como médicos do trabalho. Com essa participação dos colegas com experiência internacional só temos a ganhar”, completou.

Dra. Rosylane Rocha, enfatizou que “a troca de saberes e ter conhecimento do que está acontecendo em outros países que são referência em segurança e saúde no trabalho, ouvindo professores e pesquisadores, é muito importante. Os médicos do trabalho no Brasil também são reconhecidos por sua competência.” disse ao elogiar a participação crescente de médicos brasileiros na ICOH.

“Esse evento visa uma estratégia da ANAMT em relação à nossa atuação internacional, que nós estamos expandindo nos últimos anos, objetivando levar a medicina do trabalho do Brasil a todos os rincões do mundo”, disse Dr. Francisco Cortes Fernandes.

De acordo com Dr. Francisco, a realização do Simpósio e uma estratégia em relação a atuação internacional da Associação. “Nosso objetivo é levar a medicina do trabalho do Brasil a todos os rincões do mundo”, sublinhou.
“Acredito que nós, médicos do trabalho, possamos ter acesso a saberes de outros países que irão acrescentar na nossa experiência profissional. Acredito muito na educação, na educação continuada e que a ANAMT, como associação representante dos médicos do trabalho, está cumprindo o seu papel institucional com esse evento”, finalizou.

Doação

Parte do valor das inscrições no Simpósio será revertido para a compra de cestas básicas a serem doadas para instituições indicadas pelas Federadas em todo país.

Temas atuais de interesse

Desafios do trabalho de imigrantes, doenças respiratórias ocupacionais, monitoramento biológico, Inteligência Artificial, dificuldades da mineração de alta altitude e saúde total do trabalhador são os principais assuntos apresentados por seis palestrantes, de diferentes nacionalidades, no primeiro dia do II Simpósio Internacional de Saúde e Segurança do Trabalho ANAMT.

A primeira palestra foi realizada pela Dra. Diana Gagliardi, secretária Geral da Comissão Internacional de Saúde Ocupacional (ICOH) – Itália, sobre Trabalhadores Migrantes.

A partir de dados e informações reunidos pela ICOH em assembleia realizada em 2015, foi traçado um panorama das más condições de saúde e segurança dos trabalhadores imigrantes, em diversas partes do mundo. Na ocasião, a situação dos trabalhadores que se deslocaram em busca de oportunidades de emprego na região do Golfo Pérsico, especialmente para o Catar, por conta das obras pré-Copa do Mundo 2022, ganhou destaque devido principalmente às más condições de vida desses trabalhadores identificadas na região. Grande parte desses trabalhadores são oriundos da Índia, Nepal, Filipinas e Bangladesh.

Ao longo de sua palestra, ela apresentou dados sobre os trabalhadores imigrantes que aturaram nas obras no Catar, como perfil de idade, problemas de saúde e segurança, óbitos por doenças e acidentes, direitos trabalhistas, entre outras informações. Falou também das ações da ICOH junto com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para melhoria das condições de vidas desse imigrantes e das conquistas dessas ações.

“Havia um sistema dominante chamado ‘Kafala’, que permitia aos empregadores direitos sobre os seus empregados, não permitindo que deixassem o país sem prévia autorização. Muitos não recebiam salários, sofriam abusos físicos, psicológicos e sexuais”, relatou a especialista, que ressaltou as más condições de vida, alta pressão de trabalho para cumprir prazos apertados para a construção a tempo para a Copa do Mundo, longas jornadas em temperaturas altas, má alimentação, alojamentos lotados, falta de apoio médico por parte dos empregadores, entre outros fatores.

Doenças Respiratórias

‘Doenças Respiratórias Ocupacionais’ foi o eixo da palestra da Dra. Irmeli Lindström, especialista em medicina respiratória pelo Helsinki University Hospital e Médica-Chefe pelo Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional (FIOH).
As características comuns das doenças pulmonares ocupacionais geralmente são causadas por inalação de vapores, gases, poeiras, fumaças no local de trabalho.

“Geralmente não conseguimos dar um diagnóstico. É comum isso acontecer e é uma pena porque se não tivermos o diagnóstico de doenças ocupacionais não podemos preveni-las e precisamos trabalhar com prevenção”, frisou a médica.
As ações mais eficientes neste sentido envolvem a eliminação do agente causador ou a redução da exposição aos agentes, entre outras ações, como destacou Dra. Irmeli. A seu ver, é fundamental trabalhar com a educação de empregadores e trabalhadores para aumentar a conscientização sobre o problema.

Segundo a médica, as doenças ocupacionais mais importantes são relacionadas aos asbestos, ligadas a peneumoconiose e doenças parênquimas, como silicose, silicotuberculose e doenças pulmonares relacionadas à pó de carvão de minas, entre outros.

Monitoramento Biológico

A terceira palestra do dia tratou de ‘Monitoramento Biológico – O Quê, Por que e Como’, apresentada pela professora Kate Jones, secretária Nacional da ICOH – Reino Unido.

De modo geral, o monitoramento biológico é a medição de substâncias químicas, seus metabólitos, com seus efeitos em amostras biológicas de trabalhadores, conforme explicou. O objetivo do monitoramento é avaliar e controlar a exposição às substâncias químicas no trabalho.

“Esse monitoramento pode avaliar a exposição por todas as vias de exposição. Queremos reduzir o risco à saúde, de preferência com intervenções antes de qualquer dano. É bom para todos. Empregadores e trabalhadores.”, destacou Dra. Kate.

Conforme explicou, o foco principal do monitoramento é verificar os efeitos precoces, potencialmente reversíveis. A avaliação deve considerar o tempo de exposição, comportamento, equipamentos de proteção e outros. “Se interromper a exposição o feito será revertido. Se continuar, a internalização resulta em doenças e é isso que tentamos prevenir diariamente”, observou.

Ao longo da palestra, a professora recomendou um link para acesso a um documento sobre o biomonitoramento publicado recentemente pela OCDE, entre outras dicas. Ela também fez uma explanação sobre quais as amostras devem ser colhidas, o que fazer com elas, entre outros procedimentos. “Os trabalhadores devem estar bem informados sobre os testes e somente laboratórios certificados devem ser utilizados”, pontuou.

Inteligência artificial

A quarta palestra do dia abordou a ‘Inteligência Artificial e Saúde Ocupacional’, com o Dr. Santiago Aldaz, da Argentina, coordenador Médico Nacional do Pró-Mediar e consultor em saúde ocupacional do Instituto Santa Isabel e São Francisco Solano.

Para falar da interação entre a IA e a saúde ocupacional, um dos primeiros destaques feito pelo Dr. Aldaz foi a ética. “Podemos eliminar certos trabalhos e criar outros com a IA, mas é fundamental considerar as responsabilidades éticas da criação da IA”, ressaltou.

A palestra ilustrou as diversas fases de desenvolvimento da IA, desde a década de 1950, quando o termo foi utilizado pela primeira vez por John McCarthy, até os dias de hoje. Os impactos positivos e negativos também foram expostos. Do lado positivo, a IA permite a melhora da eficiência, a qualidade e a produtividade do trabalho. Do ponto de vista da relação negativa, envolve maior carga de trabalho, isolamento social e o perigo para a privacidade dos trabalhadores, entre outras questões complexas, como frisou Dr. Aldaz.

“A IA tem muitas oportunidades e desafios para a saúde ocupacional dentro da automatização de tarefas mediante os robôs, que podem evitar que os trabalhadores se exponham a situações perigosas. Os robôs podem facilitar o acesso ao emprego de pessoas com necessidades especiais, além de melhorar a produção, os riscos trabalhistas e prever precocemente doenças do trabalho. Mas, a ética e os direitos humanos cumprem um papel importante na concepção e utilização da Inteligência Artificial,” sublinhou o palestrante.

Mineração em altas altitudes

A quinta palestra do Simpósio da ANAMT foi sobre Saúde Ocupacional na Mineração de Alta Altitude, com Dr. Ignacio Méndez Campos, médico cirurgião formado pela Pontifícia Universidade Católica do Chile e Mestre em Saúde Pública pela Universidade do Chile.

Dr. Méndez disse que levou em consideração que o tema provavelmente seja pouco conhecido no Brasil, por se tratar de trabalho em grandes altitudes, a partir dos três mil metros acima do nível do mar. Ele fez uma revisão geral sobre o que são altitudes geográficas, os impactos gerados na saúde humana e como é hoje o trabalho em grandes alturas no Chile, principalmente na mineração, e como é a gestão da saúde ocupacional nessas circunstâncias.

No Brasil, disse o médico, o ponto mais alto é o Pico da Neblina, com três mil metros. No Chile, muitos locais estão acima dos 3 mil metros e chegam até mesmo a 7 mil metros acima do nível do mar. “No mesmo continente temos condições geográficas específicas que condicionam exposições e condições de trabalho muito diferentes”, observou.

No Chile, segundo Dr. Ignacio Méndez, a mineração é predominante quando se fala de trabalho em grandes altitudes. São de 200 a 300 mil pessoas trabalhando nesses locais de forma habitual, além de motoristas de transportes transandino para os países vizinhos, como Argentina e Bolívia, em atrações turísticas localizadas entre 3 a 4 mil metros de altura. Além de policiamento, serviços agrícolas, alfândegas, geologia, geotécnica e astronomia.

“Em grande altura temos efeitos fisiológicos, anatômicos e bioquímicos nas pessoas expostas, mas que são reversíveis. Mas, acima dos 5,5 mil metros, as pessoas podem permanecer pouco tempo e o risco para a saúde é alto a não ser que usemos medidas de mitigação, como oxigenação”, detalhou o especialista.

De acordo com ele, a descida é a única terapia para todas as complicações apresentadas na altura e a terapia inicial além de outras alternativas de apoio a serem consideradas. “As empresas têm obrigação de formar e capacitar anualmente, com avaliações, programas preventivos, protocolos de aclimatação, medidas de impacto na saúde mental, e outras ações”, pontuou.

Antigos e novos perigos

Encerrando o primeiro dia do Simpósio, o tema ‘Saúde Total do Trabalhador’ foi apresentado por Dr. L. Casey Chosewood, diretor associado para iniciativas estratégicas do NIOSH e diretor do Office for Total Worker Health (TWH), nos Estados Unidos.

Ele traçou um panorama sobre a situação dos trabalhadores nos EUA considerando a pandemia e o pós pandemia, que geraram muitas incertezas no mercado de trabalho.
“Aqui, nas pesquisas e levantamentos percebemos que os trabalhadores estão em modo sobrevivência”, salientou o médico ao acrescentar que há também uma falta de contentamento, uma tristeza com a situação corrente, tendo em vista que as pessoas têm empregos diferentes do que tinham antes e menos estáveis.

A palestra detalhou a situação dos trabalhadores, principalmente daqueles com empregos de menor remuneração, como na construção civil e na área rural, mas falou também de todos os reflexos da pandemia na população em geral, como a redução da expectativa de vida, crianças órfãs, aumento da ansiedade e depressão nos trabalhadores e aumento do uso de drogas.

O especialista falou também das previsões sobre o trabalho no futuro próximo, com as mudanças tecnológicas. “É um desafio porque seres humanos não evoluem com a mesma velocidade que a tecnologia e sentimos culpa de não conseguirmos nos adaptar rapidamente. Isso é muito estressante. Mesmo trabalhadores mais jovens estão reclamando do ritmo acelerado das mudanças e tecnologias. Esperamos ver escassez de trabalhadores em todos os níveis, mesmo de altas competências. Esperamos também um deslocamento de trabalhadores que perderam seus empregos para a automação e inteligência artificial”, exemplificou.

A tecnologia afeta todos os aspectos da vida como ressaltou o médico. “Não podemos esquecer dos problemas antigos ao mesmo tempo que nos preparamos para os novos desafios’, sublinhou.

As apresentações na manhã de sábado (6 de maio), segundo dia do II Simpósio Internacional da ANAMT, contou com palestras de especialistas de quatro países, que trataram sobre ‘SST nas atividades de petróleo e gás’, ‘Questionário Latino para doenças muscoesqueléticas’, ‘Panorama de enfermidades profissionais na Colômbia’ e ‘Biotética e Ética’.

Questionário Latino

O Simpósio teve início com o ‘Questionário Latino para Doenças Muscoloesqueléticas’, com a Dra. Daniela Colombini, Médica em Medicina do Trabalho e Estatística e presidente e diretora da Escola Internacional de Ergonomia de Postura e Movimento de Ergonomia (EPM IES).

A especialista, que é coautora do Método OCRO, apresentou algumas técnicas para estudos epidemiológicos e técnicas anamnésicas para a pesquisa e avalição preliminares das doenças musculoesqueléticas para fins de tratamento, acompanhamento e estudo epidemiológico.

“A primeira atividade do médico do trabalho é conhecer como o risco é avaliado e como o seu significado é interpretado, com a análise de todos os fatores de risco ocupacionais que podem causar a sobrecarga biomecânica. Para organizar um sistema apropriado de vigilância é importante saber quais patologias musculoesqueléticas são de interesse ocupacional do trabalho para organizar um sistema apropriado de vigilância”, explicou durante a exposição do tema.

Ela explicou que é preciso cumprir a primeira fase de vigilância sanitária, ligada a parte anamnésica. “Para o médico do trabalho, constitui uma ferramenta importante e fácil de usar, para decidir quais trabalhadores devem iniciar a segunda fase instrumental clínica e é um instrumento para a pesquisa epidemiológica inicial. Esse trabalho foi publicado na Revista Brasileira de medicina do Trabalho”, informou.

Dra. Daniela apresentou as fichas do Questionário Latino e falou sobre os campos, separados por gênero, membros superiores, coluna e membros inferiores. Falou também sobre o software Excel, que auxilia o preenchimento do questionário, já oferecendo dados estatísticos, automaticamente, e outras informações para análise.
Dr. Ruddy Facci fez uma breve apresentação para complementar a palestra da Dra. Daniela Colombini, com mais detalhes sobre o questionário, além de demonstrar as facilidades da automação da planilha.

Petróleo e Gás

A segunda palestra foi sobre ‘SST nas Atividades de Petróleo e Gás’, com a apresentação do Dr. Sandeep Sharma, Gerente Geral Corporativo de Saúde, Segurança, Meio Ambiente e Medicina da Indian Oil Corporation e Secretário da Associação de Saúde Ambiental e Ocupacional, Delhi (AEOHD).

Dr. Sharma falou sobre os grandes desafios e riscos que envolvem as atividades na indústria de petróleo e gás, que emprega milhares de trabalhadores na Índia. Ele enumerou situações que precisam de controle permanente, como lidar com material altamente inflamável, altas temperaturas e pressão, uso de muito hidrogênio em tecnologias modernas, corrosividade, reatividade, vazamentos entre outras situações de risco.

O especialista também falou sobre a fadiga como um fator de risco para acidentes e as causas desse estado, como concentração por períodos de tempo muito longos, realização de trabalho remoto e repetitivo e outros que exigem esforço físico contínuo constante.

Segundo o médico, os trabalhadores da Indian Oil contam com hospitais, serviços de enfermagem, além de uma equipe multidisciplinar, como médicos, higienistas, enfermeiras, pessoas de laboratórios médicos, fisioterapeutas. “A India Oil é uma indústria que traz muitos desafios e já fomos premiados em diferentes áreas,” complementou.

Saúde e Segurança na Colômbia

‘Panorama de enfermidades profissionais na Colômbia’ foi o tema do Dr. Juan Ignacio Rincon Sarmiento, Chefe da Divisão de Segurança Ocupacional da Universidade Nacional, sediada em Bogotá, Colômbia.

Dr. Sarmiento falou sobre a realidade e evolução das atividades ocupacionais na Colômbia nos últimos anos. “Tivemos mudanças importantes nesse período”, avaliou o médico, ao destacar a importância do Sistema Geral de Seguridade Social da Colômbia, criado há 30 anos.

A Colômbia tem mais três estruturas de apoio social à população: o Sistema Geral de Saúde, que cobre todas as doenças comuns (não ocupacionais), que correspondem a 80% dos casos no país; o Sistema Geral de Riscos Laborais e um Sistema de Pensão, disse o médico.

A Colômbia soma 51,609 milhões de habitantes. Desse total, 43% da população trabalha. No entanto, somente 9,260 milhões estão formalmente vinculadas ao trabalho, enquanto cerca de 58% dos trabalhadores é informal.

“Nos últimos 20 anos, o Ministério do Trabalho e de Saúde e o Ministério de Proteção Social fizeram importantes esforços para estabelecer várias normativas. As empresas têm o dever de cumprir as questões de segurança ocupacional, mas as normas só alcançam o setor formal do trabalho”, sublinhou Dr. Sarmiento.

No entanto, somente as grandes empresas implantam os programas de saúde ocupacional como exigem as normas legais. “As pequenas e médias empresas ainda estão numa fase muito básica nesse tipo de implementação de leis porque não têm recursos”, avaliou Dr. Sarmiento.

Na Colômbia, ainda não existe um sistema integrado capaz de fornecer dados precisos sobre quantas doenças ocupacionais afetam os trabalhadores, mas pesquisas em andamento devem estabelecer as diferenças entre o que é considerado patologia ocupacional e não ocupacional, conforme explicou o médico. É o governo nacional quem determina, de forma periódica, as doenças consideradas ocupacionais.

Bioética e Ética

Dr. Rui Nunes, doutor em Medicina na Área de Bioética pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, em Portugal (FMUP), destacou o tema ‘Bioética e Ética’.
A evolução nas pesquisas científicas em biologia e medicina, somados aos avanços tecnológicos indicam que não haverá retorno e o desfio é conciliar a ética médica tradicional com a visão moderna, que é designada bioética. Com essa perspectiva que Dr. Rui Nunes iniciou a palestra.

“É a nova ética da vida, de todas as formas, já não apenas da vida humana, já não apenas da relação médico e paciente”, pontuou ao demonstrar preocupação com os rumos da questão, especialmente diante das novas tecnologias, como Inteligência Artificial (IA) e robótica.

“A ciência cumpre um objetivo central na humanidade, mas não pode estar em completa rota livre, precisa ser acompanhada de conceitos éticos muito bem consolidados, na melhor harmonia possível na cena internacional”, defende o médico.

Dr. Rui Nunes relatou uma visita que fez a um hospital onde robôs já fazem atendimentos para casos menos graves na emergência. “Temos que ter noção de como as coisas estão evoluindo”, acentuou.

“A IA mudará radicalmente as nossas vidas e ninguém pense que apenas como cidadãos, mas como médicos. Temos que ter essa noção muito clara que desde o diagnóstico ao tratamento, a atenção que é dispensada a nossos pacientes, tudo vai mudar nos próximos anos”.

Ele também criticou possíveis experiências que fujam à ética estabelecida para experimentos com genes humanos. “A alteração da natureza humana é uma enorme caixa de pandora,” acentuou.

Formação da especialidade em Portugal

Na palestra seguinte, Dr. Nuno Saldanha, médico especialista em Medicina do Trabalho com Certificação Europeia pela UEMS, falou sobre a Formação do Médico do Trabalho em Portugal. Ele detalhou o processo, que tem início com os seis anos do curso de Medicina, seguidos po uma prova nacional de acesso, realizada anualmente para participar de um internato de formação geral que dura doze meses.

A atividade é seguida por outro internato, de formação específica em Medicina do Trabalho, com duração de quatro anos, somente realizado em hospitais públicos. Ele detalhou as etapas do internato, que abrange estágios obrigatórios e opcionais em diversas áreas. Ainda há uma formação teórica obrigatória, mas que não dá acesso à especialidade.

Sobre a avaliação da formação, Dr, Nuno explicou que é realizada um exame anual pelos médicos do trabalho do hospital do internato. Também ocorre um processo nacional que abrange avaliação curricular, teórica e prática.

O palestrante também falou sobre o trabalho desses profissionais, como realização de exames de admissão, periódicos e ocasionais, avalição de acidentes de trabalho, visitas e intervenções nos postos de trabalho, rastreio de riscos, como de exposição a radiação, doenças como tuberculose e risco biológico, entre outras atribuições.

Riscos Psicossociais

Dr. Quentin Durand-Moreau, diretor de Programas de Pós-Graduação em Medicina do Trabalho da Universidade de Alberta (Canadá), abordou os Riscos Psicossociais. Ele apresentou definições de estresse e de riscos psicossociais, que podem ser demandas psicológicas que devem ser avaliadas após serem levantadas e o potencial para causar danos psicológicos ou físicos.

Demanda e complexidade do trabalho, além de pressão e a própria cultura da empresa podem ser consideradas demandas emocionais, assim como exaustão emocional. “Pensar em demandas de trabalho quando não se está trabalhando é normal, o problema é a sobrecarga. Tenha em mente maneiras de avaliar isso”, destacou, acrescentando que, no caso de trabalhadores que lidam com o público, em especial pessoas que estejam vulneráveis ou ansiosas, a empresa deve pensar em formas de proteger o trabalhador.

Gestão de Saúde Ocupacional

Em seguida, o médico equatoriano Dr. Klever Parra, diretor geral da IPS, falou sobre Gestão de Saúde Ocupacional. Ele explicou que os sistemas de gestão de SST tem por finalidade identificar riscos e oportunidades do trabalho realizado e também da própria ferramenta de gestão. A ferramenta ainda reúne elementos que estabelecem uma política de SST, como indicadores de gestão que podem ser verificados posteriormente, além de equipes especializadas.

Dr. Klever explicou que, no Equador, a responsabilidade sobre o tema é das empresas, o que demanda investimentos na saúde e segurança do trabalho dos trabalhadores. Entre os regulamentos existentes na área, ele apontou o regulamento andino da área e o ISSO 45001, que é usado mundialmente. No caso deste, pontos como conhecer a organização, eliminar perigos e reduzir riscos para trabalhadores identificados em situação de risco. “Sem identifica-los, não há como ter plano de ação”, detalhou. Dr. Klever ainda falou da importância de ter métricas para controlar eventuais riscos. “Identificar os perigos no local de trabalho é fundamental para planejar ações efetivas”, destacou.

Saúde, segurança e meio ambiente

Dra. Aida Montiel, do México, abordou o assunto Saúde, Segurança e Meio Ambiente no México. Ela falou sobre o programa de saúde e segurança do trabalho no país e a legislação sobre o tema, que abrange a Constituição local, leis ambientais e lei de seguridade social, que estabelece a obrigatoriedade de ter médicos nas empresas e outros aspectos, como tempo de descanso e restrições para gestantes.

Sobre o programa de SST, Dra. Ainda explicou que as empresas podem se certificar. Ela também pontuou o uso da ISO 45001 no México.

ICOH 2024

A última palestra do II Simpósio Internacional da ANAMT foi realizada pelo médico marroquino Dr. Abdeljalil El Kholti, que falou sobre o 34º Congresso Internacional de Saúde Ocupacional (ICOH 2024), que será entre os dias 28 de abril e 4 de maio de 2024 em Marraquexe, no Marrocos. Ele mostrou suas participações nas edições anteriores do evento, datas-chave do Congresso até a realização, a programação e o local de realização. O presidente da ANAMT, Dr, Francisco Fernandes, ressaltou que a ANAMT está promovendo o evento no Brasil.

 

 

Por |2023-05-12T17:06:25-03:009 de maio de 2023|Institucional, Notícias|