‘Os novos desafios para a atenção à saúde mental do trabalhador’ foi o tema da conferência realizada por Dra. Alexandrina Meleiro, médica psiquiatra, vice-presidente da Associação Brasileira da Prevenção do Suicídio e do Conselho Científico da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). A palestra aconteceu no dia 8 de novembro, segundo dia do 19º Congresso Nacional da ANAMT, no Centro de Convenções de João Pessoa.
Segundo ela, estima-se que cerca de 400 milhões de pessoas tenham depressão no mundo. Antes da pandemia eram 320 milhões. Há também registro de aumento de suicídios no ambiente de trabalho, conforme ressaltou.
“Se o ambiente de trabalho é negativo e estressor, isso leva a um aumento de doenças físicas e doença mental. O empregador e os funcionários com cargos de responsabilidade têm que ter um plano para promover medidas para garantir uma boa saúde mental de seus funcionários. Tem que ter um plano para apoiá-los e ter menos risco de suicídio”, destacou a palestrante.
Com a pandemia, registrou-se aumento da ansiedade e da depressão, principalmente nas mulheres, e entre os homens, aumento do consumo de álcool e outras drogas.
‘Estudos mostraram que pessoas em depressão foram as que menos tomaram cuidado para se protegerem porque queriam pegar a Covid-19’, pontuou Dra. Alexandrina.
Um dos problemas para a prevenção da saúde mental dos trabalhadores, segundo a médica, é que na maioria mente sobre o consumo de álcool. “O funcionário responde que só bebe socialmente, mas isso pode significar todo dia e o álcool piora a depressão, a impulsividade e a agressividade. É nessa desinibição pós consumo de álcool é que pode acontecer a tragédia”, alertou. Álcool, depressão e suicídio andam próximos, como explicou a médica.
Ao longo da palestra, a psiquiatra falou também sobre os malefícios da Covid-19. “Pode afetar o cérebro e principalmente a saúde mental devido à resposta inflamatória do cérebro. No início, todos centramos no pulmão e no coração. Hoje sabemos que também afetou o cérebro, com consequências neurológicas e psiquiátricas”, frisou Dra. Alexandrina.
A seu ver, cabe ao médico do trabalho promover um ambiente de trabalho saudável e, ao mesmo tempo, expressar empatia com o trabalhador com depressão.
É importante ter um plano de atendimento traçado previamente que envolva ouvir o trabalhador sem julgamentos, perguntar sobre desejo de morte, por mais delicada que seja a pergunta, chamar um familiar indicado pelo paciente e incentivar a buscar do atendimento especializado, apresentando as alternativas existentes.
Ainda não sabemos como o trabalho remoto e o híbrido, que na minha opinião veio para ficar, vão afetar as pessoas em relação à depressão, à saúde geral no geral”, ressaltou a médica.