O dossiê A Pandemia da Covid-19 e a Saúde do Trabalhador, da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (RBSO), traz três novos textos que refletem sobre o período pandêmico: o editorial COVID-19 como uma doença relacionada ao trabalho, a carta Mães acadêmicas durante e após a pandemia de COVID-19 e o ensaio Transmissão da COVID-19: um breve reexame das vias de transmissão por gotículas e aerossóis.
O editorial, de autoria da pesquisadora da Fundacentro Maria Maeno, reflete sobre o cenário após quase dois anos de pandemia, com enfoque no ambiente de trabalho. Quais atividades foram consideradas essenciais? Qual a relação entre trabalho presencial, transporte coletivo e a exposição à Covid-19? A médica aponta algumas questões desses aspectos e defende o reconhecimento da Covid-19 como doença relacionada ao trabalho.
“As características de transmissão aérea e por proximidade física do SARS-CoV-2, o caráter comunitário da doença e a peremptoriedade das atividades de trabalho para a sobrevivência ou manutenção dos empregos foram aspectos centrais levantados para que se advogue pelo reconhecimento da COVID-19 como uma doença relacionada ao trabalho, com fundamentação nos conceitos, dentre outros, de maior risco de exposição e aplicação do princípio da inversão do ônus da prova”, afirma no editorial.
Já a carta, dos pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Júnia Aparecida Laia da Mata e Sayed Abdul Basir Samimi, destaca como a pandemia afetou as mulheres que passaram a compartilhar o lar e toda a dinâmica familiar com o ambiente de trabalho. No caso das mães acadêmicas, essa situação pode afetar significativamente carreiras e produtividade.
“As situações sociais desencadeadas pela pandemia têm se materializado nas mães acadêmicas, que lutam para conciliar o trabalho formal com as responsabilidades do trabalho de cuidado não remunerado, correndo o risco de vivenciarem sofrimento psíquico, culpa, exaustão e queda na produtividade”, alertam os autores. Eles defendem a adoção de políticas que contemplem essas mães e ações que abordem questões de diversidade e gênero no trabalho no meio acadêmico.
Por fim, o ensaio, da pesquisadora da Fundacentro Érica Lui Reinhardt, busca subsidiar programas para a proteção de trabalhadores e pacientes em serviços de saúde referentes à Covid-19 e a outras doenças infecciosas ao discutir a forma de transmissão por gotículas e aerossóis, conceitos, medidas de controle e prevenção. No caso da Covid-19, “verifica-se que a transmissão da doença se dá tanto pelo contato direto ou por gotículas quanto pela transmissão aérea especial”.
Para evitar ou minimizar a transmissão da Covid-19 em serviços de saúde, a pesquisadora aponta a necessidade de adotar as precauções para gotículas e demais recomendações do Ministério da Saúde, além de algumas medidas adicionais. Entre elas, “enquanto houver transmissão comunitária, todos os profissionais de saúde devem utilizar máscara cirúrgica ajustada ao rosto, no mínimo, e proteção ocular durante o atendimento a todos os pacientes; e, para os atendimentos a casos suspeitos ou confirmados de COVID-19, protetores respiratórios PFF2 ou N95 em conjunto com a proteção ocular, mesmo em procedimentos que não geram aerossóis”. Também é necessário “explorar meios para melhorar a qualidade do ar interior, em conjunto com a engenharia, incluindo otimizar sistemas de ventilação.
Fonte: Fundacentro