Estudo elaborado pelo Ministério da Saúde indica que, entre 1980 e 2019, mais de 3 milhões de pessoas morreram no Brasil por até 18 tipos de câncer que podem ter sido causados pela exposição a produtos, substâncias ou misturas presentes em ambientes de trabalho.
Segundo o Atlas do Câncer Relacionado ao Trabalho no Brasil, ao longo de 39 anos, o Sistema de Informações Sobre Mortalidade (SIM) registrou 3.010.046 óbitos decorrentes desses tipos de câncer. O resultado, segundo a equipe técnica, poderia ser menor caso mais ações tivessem sido feitas para controlar ou eliminar a exposição dos trabalhadores a agentes cancerígenos.
“As iniciativas de prevenção e controle do câncer relacionado ao trabalho são prementes para evitar a exposição dos trabalhadores a um conjunto de produtos, substâncias, misturas ou situações que possam predispor ao desenvolvimento da doença”, alertou uma das coordenadoras do estudo, Isabella de Oliveira Campos Miquilin.
O atlas foi lançado hoje (16) durante o seminário Câncer Relacionado ao Trabalho – Desafios e Perspectivas para a Estruturação da Vigilância Nacional, promovido pelo ministério. O evento prossegue até amanhã (17) e pode ser acompanhado pelo Youtube.
Primeira versão
Para atualizar a primeira versão do atlas, publicada em 2018, os pesquisadores voltaram a se debruçar sobre os registros nacionais de câncer de bexiga, esôfago, estômago, fígado, glândula tireoide. laringe, mama, mesotélio, nasofaringe, ovário, próstata, rim e traqueia/brônquios/pulmões. Também são analisados o sistema nervoso central (incluindo o cérebro) e casos de leucemias, linfomas Não Hodgkin, melanomas cutâneos e mielomas múltiplos.
O objetivo do estudo é contribuir no planejamento e na tomada de decisão nas ações de vigilância em saúde do trabalhador. “Compartilhamos o entendimento de que o trabalho é uma das mais importantes categorias de análise para a compreensão dos processos de consolidação da cidadania e dos modelos de desenvolvimento estabelecidos na sociedade”, disse a coordenadora. Ela ressaltou que o câncer relacionado à exposição ocupacional é considerado um “grave problema de saúde pública” em todo o mundo, sendo uma das quatro principais causas de mortes prematuras globais.
“Segundo as estimativas globais, em 2015, cerca de 26% dos trabalhadores vítimas de doenças associadas ao trabalho morreram em consequência de um tipo de câncer também relacionado ao trabalho. ”Do total de mortes em consequência dos 18 tipos de câncer, a proporção de óbitos foi 1,4 vezes maior entre os homens. No caso do câncer de laringe, a diferença chegou a ser sete vezes maior. Além disso, os óbitos relacionados a apenas oito das 18 tipologias selecionadas (pulmão, mama, próstata, estômago, esôfago, fígado, leucemia e sistema nervoso central) representam mais de 80% de todos os falecimentos.”
Regiões
O atlas produzido pelo Ministério da Saúde também apresenta uma análise do problema nas cinco regiões brasileiras e informações sobre atividades econômicas, situações de exposição. Há, ainda, algumas recomendações, como a importância da fiscalização dos processos e atividades com potencial cancerígeno e a urgência de estruturação de sistemas de informação e monitoramento capazes de gerar dados sobre os efeitos dos contaminantes ambientais na saúde humana.
“Quando falamos de câncer relacionado ao trabalho, estamos falando de agentes químicos, físicos e biológicos que podem ser eliminados e substituídos. Mas, no Brasil, isto constitui um problema, uma vez que convivemos com agentes que já foram banidos em outros países”, disse a gerente da Unidade Técnica de Exposição Ocupacional, Ambiental e Câncer do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Ubirani Barros Otero.
A íntegra do Atlas do Câncer Relacionado ao Trabalho no Brasil: Análise Regionalizada e Subsídios para a Vigilância em Saúde do Trabalhador está disponível na página da Biblioteca Virtual em Saúde, na internet.
Fonte: Agência Brasil