Pesquisa identifica síndrome de burnout e depressão em profissionais da saúde

Pesquisa identifica síndrome de burnout e depressão em profissionais da saúde

Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) identificou altos níveis de síndrome de burnout e depressão em profissionais da saúde de todo o Brasil. Entre os 201 técnicos de enfermagem entrevistados, 70% deles apresentaram sintomas de esgotamento. A categoria é a que teve os piores resultados

Na primeira etapa da pesquisa, realizada entre maio e junho de 2020, foram entrevistados 1.054 profissionais de saúde. Destes, 35% são médicos, 19% técnicos de enfermagem, 14% enfermeiros, 12% de psicólogos, entre outras categorias.

De acordo com a psiquiatra do Departamento de Atenção à Saúde da UFRGS e responsável pela pesquisa, Carolina Moser, os resultados são preocupantes.

“Chamou a atenção como resultado muito importante e preocupante, que mais da metade dessa mostra apresentou elevados níveis de burnout e sintomas de depressão sugestivos de quadro depressivo clinicamente significativo”.

Veja abaixo o resultado em cada uma das categorias

– Técnicos de enfermagem (201 profissionais entrevistados): 68,2% com alto nível de burnout e 68,7% com depressão clinicamente significativa
– Médicos (346 profissionais entrevistados): 45,6% com alto nível de burnout e 42,9% com depressão
– Enfermeiros (150 profissionais entrevistados): 60% com alto nível de burnout e 55,9% com depressão
– Psicólogos (126 profissionais entrevistados): 39,7% com alto nível de burnout e 33,6% com depressão
– Demais categorias profissionais incluídas no estudo (como um grupo misto de 213 profissionais de diversas outras categorias): 56,3% com alto nível de burnout e 60,6% com depressão.

Para os pesquisadores, o resultado pode estar relacionado a diversos fatores, principalmente à pandemia de Covid-19.

“A gente tem várias hipóteses, uma pelo próprio tipo de trabalho, que essa categoria profissional exerce junto com os pacientes. Um outro fator foi um menor acesso dessa categoria a tratamento de saúde mental, sendo que essa categoria foi a que apresentou uma maior proporção de indivíduos que referiram não estar em tratamento para a saúde mental apesar de sentir que precisariam estar”, diz.

Também podem ter influenciado, segundo Carolina, os diagnósticos positivos de Covid em muitos profissionais da área.

“A categoria dos técnicos de enfermagem em relação às demais categorias apresentou também uma maior proporção de profissionais que já haviam tido diagnóstico confirmado de Covid, e também essa categoria foi a que apresentou maior proporção de indivíduos pertencentes a grupo de risco. Fatores que a gente imagina que elevem o nível de estresse desses profissionais”, completa.

A pesquisa

O estudo faz parte da tese de doutorado intitulada “Avaliação da saúde mental dos profissionais de saúde na pandemia do coronavírus (Covid-19)”, e é realizada junto ao Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Ciências do Comportamento da universidade.

“A demanda surgiu pelo fato de a gente estar na pandemia e ter uma ideia do quanto esses profissionais iam ter uma sobrecarga de trabalho, iam estar expostos a inúmeros desafios”, destaca Carolina.

O projeto é voltado a todos os profissionais de saúde do Brasil, e contemplou as 17 categorias profissionais voltadas ao tratamento de pacientes humanos, entre eles médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, educadores físicos, técnicos em radiologia, biomédicos, farmacêuticos, fonoaudiólogos, entre outros.

Para a análise, foram distribuídos questionários com cerca de 90 questões para profissionais de todo o país.

Das respostas recebidas, 61,9% são de profissionais da Região Sul do Brasil, 21,3% do Sudeste, 10,3% do Nordeste, 4,2% do Centro Oeste, e 2,4% do Norte.

Carolina esclarece que a pesquisa identificou profissionais de saúde como um todo, e não apenas os que estão em contato direto com pacientes de Covid.

O que é burnout

“O burnout é também conhecido como síndrome do esgotamento profissional e ele é basicamente uma combinação de cansaço físico, esgotamento emocional e uma exaustão cognitiva atribuída a atividade laboral. Então a causa disso é relacionado às condições de trabalho”, explica Carolina.

Segundo a pesquisadora, a definição de burnout engloba três dimensões.

“A da exaustão, que é a falta de energia, fadiga crônica, esgotamento resultante dessa demanda excessiva de trabalho; a despersonalização, que seria basicamente um distanciamento, como uma maneira de lidar com esse estresse e uma terceira que é uma redução da realização profissional, uma desmotivação”, explica a psiquiatra.

Próximos passos

Na segunda fase do estudo, os pesquisadores submeteram os mesmos profissionais de saúde a outros questionamentos.

“Entre novembro e dezembro [de 2020], uma parte respondeu, então a gente acompanhou e essas análises estão em processo de detalhamento para poder fornecer os próximos dados. Como se comportou, como esses profissionais ficaram ao longo de pandemia, o que mais pesou e ocasionou para esse nível de burnout e depressão”. Essa segunda etapa ainda não tem data prevista para publicação.

Com os resultados, o grupo começa a pensar no desenvolvimento de intervenções que possam ser realizadas com os profissionais de saúde.

“O burnout é uma síndrome que pode ser prevenida, então estamos desenvolvendo intervenções. Trabalho junto a equipes, no sentido de promover uma cultura mais de colaboração, ao invés de competição, de os profissionais poderem ser ouvidos, com todos se sentindo parte do processo”, destaca Carolina.

Fonte: Revista Proteção

Por |2021-07-13T10:52:15-03:0013 de julho de 2021|Saúde no trabalho|