O câncer é a segunda principal causa de morte no muito e, em nível global, uma em cada seis mortes estão relacionadas ao câncer. E o relacionamento desta doença com o trabalho não pode ser esquecida pelo Médico do Trabalho.
Nesta sexta-feira (17), o 17º Congresso Nacional da ANAMT recebeu o seminário “Câncer relacionado ao trabalho”, que debateu o assunto sob diversas perspectivas, mas com um tom em comum: é preciso levantar informações fidedignas baseadas em evidências e bancos de dados confiáveis para ser possível intervir nas causas, e não apenas contabilizar vítimas.
Karla Baêta, coordenadora-geral de Saúde do Trabalhador do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, abriu a atividade abordando a implementação do Carex – sistema internacional de informação sobre exposições ocupacionais a agentes carcinogênicos e sua prevalência nos ambientes de trabalho – no Brasil.
Segundo a especialista, o processo de construção passa por uma revisão e análise das informações sobre o câncer relacionado ao trabalho em outros países para, posteriormente, fazer um paralelo com o perfil de trabalho no Brasil e os principais agentes cancerígenos destas atividades.
“A partir desta análise pelas principais bases de dado do país – CENSO demográfico, PNAD e RAIZ –, conseguimos traçar o perfil de exposição das profissões mais impactadas por estes agentes”, explicou Karla. “Isso é importante porque, ao contrário da exposição a agentes cancerígenos presentes no meio ambiente, a exposição no ambiente de trabalho pode ser impedido ou cessado, já que não há ‘níveis seguros’ de exposição a estas substâncias”.
Um dos principais desafios do processo tem sido a busca por fontes de informação. Segundo Baêta, o acesso aos bancos de dados mais atualizados tem sido mais difícil. A falta de estudos sobre os agrotóxicos, bem como a falta de informações de empresas a respeito de terceirizados e as atividades que eles exercem têm se mostrado barreiras para um diagnóstico mais preciso.
“O Carex tem o potencial de tornar-se uma importante base de dados capaz de auxiliar na vigilância do câncer relacionado ao trabalho e na produção de políticas públicas voltadas ao assunto”, sublinhou Karla. “Por isso temos tentado reforçar a importância deste programa, ressaltando que ele deve ser continuado independentemente do governo em questão”.
Atlas do Câncer Relacionado ao Trabalho
Outro importante aliado na elaboração de políticas públicas e de medidas protetivas em empresas é o Atlas do Câncer Relacionado ao Trabalho, lançado pelo Ministério da Saúde em dezembro do ano passado. Inédita, a publicação estima a doença que seria prevenida caso o fator de risco fosse eliminado.
No mapeamento da mortalidade por cânceres relacionada ao trabalho, foram identificados os 900 agentes com alto potencial cancerígeno mais presentes nos ambientes de trabalho e que podem ser evitados com medidas preventivas, como o uso de materiais e equipamentos.
Segundo Daniela Buosi, coordenadora-geral de Vigilância em Saúde Ambiental no Ministério da Saúde, abordou o desenvolvimento do atlas e sua atualização. “Começamos um trabalho com um recorte nacional sobre os cânceres relacionados ao trabalho, mas ainda neste ano faremos os recortes estaduais, já que os cenários de cada região são diferentes de acordo com o perfil do mercado de trabalho”, aponta a especialista.
Buosi ressaltou a importância de ter boas bases de dados para esse tipo de trabalho, exaltando o trabalho do Carex Brasil e os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) neste sentido. “A produção de informações fidedignas, confiáveis e de qualidade é fundamental para a elaboração de políticas de saúde baseadas em evidências. A partir deles, o investimento em diagnósticos precoces e exames periódicos são determinantes para evitar danos irreversíveis à saúde do trabalhador”, afirma. “Queremos intervir na causa, e não só contabilizar vítimas”.