Os números apresentados no último dia do Seminário Centro-Oeste da ANAMT, realizado na Associação Médica de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande (MS), mostraram um cenário alarmante para os Médicos do Trabalho. Como apresentado pela presidente da entidade, Dra. Marcia Bandini, entre os anos de 2015 e 2016 a região notificou 527 mortes de trabalhadores. “Os dados são indicadores de que a situação não é positiva. Por trás de cada número há uma pessoa, uma família”, salientou.
Ela reforça que os profissionais devem respeitar as normas internacionais estabelecidas para minimizar a situação atual que custa quase R$ 300 milhões acumulados da Previdência. “Por isso a importância da ANAMT de promover seminários como este. Precisamos defender o trabalho digno”.
Com um desequilíbrio de forças dentro da contratação, inúmeras ações trabalhistas pelo não pagamento de verbas rescisórias, uso do adicional de insalubridade como penduricalho e outros pontos discutidos durante o evento, a presidente da AMANT orientou aos colegas médicos que tomem decisões mais justas.
“O que nos cabe é sermos médicos e o que espero de vocês é que advoguem pela nossa causa. É preciso transformar o trabalho junto com todos os envolvidos”. A presidente deixou ainda a sugestão do livro Justiça – O que é fazer a coisa certa?, do autor Michael J. Sandel para a plateia.
Para celebrar a realização do evento, o presidente da Associação dos Médicos do Trabalho de Mato Grosso do Sul (ASMET), Dr. Amaury do Lago Prieto, e integrantes da diretoria receberam das mãos da presidente Marcia Bandini e de presidentes de gestões anteriores o primeiro certificado do projeto Federada Legal.
Região Centro-Oeste em foco
Os assuntos debatidos no último dia de Seminário giraram em torno de ações regionais, tendo como mote o tema do próprio encontro: “promoção do trabalho digno, seguro e saudável na região Centro-Oeste”.
Na palestra “Avaliação Ergonômica nas atividades agroindustriais: indicações, tipos de estudos, análise de resultados e intervenções”, o Dr. Carlos Campos apresentou diversos estudos de caso demonstrando, de maneira técnica e científica, como é possível melhorar as condições de trabalho em cada área deste setor econômico.
Para ele, o primeiro passo é se envolver diretamente com o trabalhador. “Você precisa ter um contato social com esse trabalhador para ele entender que você está ao lado dele”, explicou. Dentre as amostras estavam avaliações realizadas com cortadores de cana-de-açúcar, trabalhadores de frigoríficos e câmaras frias.
Já o professor doutor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Luis Henrique da Costa Leão, abordou a exposição a agrotóxicos no agronegócio e efeitos sobre a saúde dos trabalhadores. O especialista apontou que a exposição aos agrotóxicos agrícolas se dá em todos os elos da cadeia produtiva. “O cerrado está sendo o principal alvo disso. Estudos comprovam que não existe uso seguro dos agrotóxicos. Por isso o desafio é criar políticas nacionais de redução do uso deste produto e do reconhecimento e notificação dos perigos dele”.