50 anos de realizações: ANAMT chega ao Jubileu de Ouro

No dia 26 de março de 2018, a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) completa 50 anos de fundação. Criada em São Paulo (SP) por iniciativa dos Drs. Oswaldo Paulino, Bernardo Bedrikow, Joaquim Augusto Junqueira e Diogo Pupo Nogueira, a entidade teve seus primeiros passos dois anos antes, após a participação de seus fundadores no Congresso Internacional de Medicina do Trabalho, em Viena (Áustria).

Mais de cinco décadas depois, a Associação acumula uma trajetória de conquistas para os 5.900 associados, atuação nos 27 estados do Brasil por meio das Federadas, centenas de eventos de atualização dos profissionais e melhora nas condições de trabalho para os trabalhadores de todos os setores, obtidas com a participação da entidade na abordagem do tema junto aos órgãos do setor.

“A ANAMT foi criada no final dos anos 1960, época que o Brasil carregava o vexatório título de ‘campeão mundial de acidentes do trabalho’ e o governo sofria pressões de organismos internacionais para adotar medidas para combater a dramática situação e estabelecer mecanismos de prevenção”, contextualiza Leonilde Galasso, autora do livro 50 anos em 50 Histórias, sobre a história da entidade.

Dr. Oswaldo Paulino (em pé), Dr. Diogo Pupo Nogueira (à esquerda), Dr. Joaquim Augusto Junqueira e Dr. Bernardo Bedrikow: fundadores da ANAMT

Entre as primeiras conquistas da Associação mencionadas pela autora, está o estabelecimento de 22 federadas no ano de sua fundação, a realização do III Congresso Pan-Americano de Medicina do Trabalho, em Santos (SP), com 800 participantes do Brasil e do exterior, e eventos de capacitação sobre a especialidade no começo dos anos 1970, feitos em parceria com a Fundacentro e universidades brasileiras, para formar os especialistas que integrariam os Serviços de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), que se tornaram obrigatórios em 1972 para empresas com mais de 100 empregados, conforme as Portarias nº 3236 e 3237.

“Ao olharmos para trás e vermos os obstáculos e conquistas obtidas pela ANAMT ao longo dos anos, é motivo de orgulho fazer parte de uma entidade tão representativa para seus associados e trabalhadores assistidos por esses profissionais, assim como é um desafio honrar essas conquistas e manter a relevância da especialidade em um contexto de tantas mudanças e desafios para Medicina do Trabalho. Cada um dos membros da ANAMT deve ter esse pensamento em mente e atuar de forma ética e responsável todos os dias”, pontua a presidente da ANAMT, Dra. Marcia Bandini.

Presidente da Associação entre 2013 e 2016, Dr. Zuher Handar ressalta o papel da entidade na formação da especialidade e atenção do médico para o cuidado integral da saúde dos trabalhadores. “Para que isto pudesse ter êxito, foi necessário retornar ao que Bernardino Ramazzini nos ensinou e nos questionar: quais são as competências que os Médicos do Trabalho devem ter para realizar bem as tarefas que esperam deles?”, refletiu.

“A ANAMT ajudou a ajuntar as pessoas que já exerciam a Medicina do Trabalho no Brasil, para além do Rio de Janeiro, que desde 1944 tinha a sua associação, a ABMT. Os esforços incluíram o reconhecimento formal da especialidade por todas as entidades federais; emancipação e afastamento da tutela do Ministério do Trabalho; investimentos em formação e qualificação, e mais tarde, principalmente a partir da gestão do Dr. Pedro Elias Makaron, a aproximação com a área de Saúde, o Ministério da Saúde, e a busca do realinhamento de foco em torno da Saúde do Trabalhador, como previa a Constituição Federal e a Lei da Saúde”, pontua Prof. René Mendes, presidente da ANAMT entre 2001 e 2007.

“O aprimoramento profissional dos associados, a projeção da ANAMT como entidade representativa nos cenários nacional e internacional e o estabelecimento de diretrizes e normas para a atividade dos Médicos do Trabalho foram algumas das ações desenvolvidas ao longo desses anos”, ressaltou Dr. Ruddy Facci, presidente da entidade entre 1993 e 1998.

Participação ativa

Dr. Gilberto Peixoto, à frente da Associação entre 1983 e 1985, lembra as iniciativas legislativas que possibilitaram a melhora da atenção à saúde no ambiente de trabalho no Brasil e a criação dos cursos para a especialidade.

“A contribuição da ANAMT foi muito boa para a saúde adequada dos trabalhadores, porque passaram a ter assistência melhor e fiscalização mais efetiva do Ministério do Trabalho”, ressaltou.

Segundo Dr. Jorge da Rocha Gomes, presidente da ANAMT entre 1981 e 1983, o texto final das Portarias 3236 e 3237 contemplaram sugestões feitas por federadas da ANAMT e seis anos depois, em 1978, a Associação, por meio de seus associados, participou da redação das primeiras Normas Regulamentadoras (NRs), estabelecidas na Portaria 3214.

Leonilde acrescenta que, ao longo das décadas, a Associação também obteve reconhecimento de outras entidades médicas, com as quais tem ampliado a sua cooperação. “A ANAMT conquistou, um lugar de destaque entre as instituições voltadas para a saúde no Trabalho. A entidade tem realizado esforços no sentido de ampliar a cooperação interinstitucional e científica com entidades nacionais e estrangeiras, governamentais e privadas, e tem obtido crescente reconhecimento, por parte de entidades médicas, como CFM e AMB, como legítima representante dos Médicos do Trabalho”.

Longa parceria

Entre as entidades que participaram da história da ANAMT, a Associação Médica Brasileira (AMB) é um dos órgãos mais presentes. Dr. Lincoln Lopes Ferreira, presidente da AMB, destaca a importância da entidade para o debate sobre SST no Brasil:

“O aniversário de 50 anos da ANAMT deve ser comemorado não somente pelos Médicos do Trabalho associados à entidade, mas por todos os médicos e até mesmo por todos os brasileiros. A ANAMT representa a materialização do amadurecimento de nossa sociedade em relação ao trabalho e à saúde.

Como presidente da AMB, sinto-me honrado em saber que estamos representados na área do trabalho por uma sociedade de especialidade tão capacitada e atuante. Parabéns, ANAMT. Rumo aos próximos 50 anos!”

Desafios atuais

Para os próximos anos, os desafios da ANAMT acompanham as mudanças no mundo do trabalho, como desenvolvimento da tecnologia e alterações legislativas. Para Dr. Casimiro, presidente da Associação entre 1987 e 1991, o contexto exige adequar as iniciativas da especialidade a esse movimento.

“As transformações são um fenômeno permanente, pois a sociedade como um todo está sempre em mutação. O desafio da ANAMT será adequar suas ações propiciando ao médico do trabalho ferramentas eficientes para proteger a vida e a saúde nesses locais”, alertou.

Ainda que mudanças ocorram, além de estarem atentos a elas, os profissionais devem manter como foco o cuidado com a saúde dos trabalhadores e ampliarem o olhar para além do local de trabalho. “É importante neste momento que a ANAMT desperte no especialista a necessidade em estimular que a questão do cuidado da saúde do trabalhador seja uma das prioridades da empresa. O desafio é de formar bons profissionais que atendam as necessidades da sociedade para qual eles têm a missão de atender e, para tanto, ter boa formação em Clínica Médica e domine os conceitos e as ferramentas da Saúde Pública”, detalha Dr. Zuher Handar.

diretoria_da_ANAMT_2016-2019

Diretoria da ANAMT no 16º Congresso da Associação, em 2016

Ainda que existam especificidades de cada área econômica e, por consequência, nas atividades dos Médicos do Trabalho que atuam em setores distintos, isso não deve impedir que todos atuem em busca do mesmo objetivo: a atenção integral à saúde dos trabalhadores. “A troca de informações, experiências, um rumo único para todos esses profissionais, é um dos principais objetivos que a ANAMT deveria procurar os próximos anos”, sugere Dr. Álvaro Frigério, presidente da entidade entre 1991 e 1993.

Prof. René Mendes pontua que os desafios também existem dentro da Medicina do Trabalho, com necessidade de articulação com outras especialidades médicas e valorização da área. Entre as iniciativas pontuadas, está a defesa da Resolução CFM 1488/98 em sua integridade. “Ela tem abrangência sobre todos os médicos e não apenas sobre os médicos do trabalho. Portanto, espera-se que, no âmbito da comunidade médica, a ANAMT exerça esse papel frente aos demais médicos em nosso país”, destaca Prof. René.

Programação em 2018

Em seu 50º aniversário, a ANAMT realizará dois Seminários Regionais: o Norte/Nordeste, que ocorrerá em Teresina (PI) entre os dias 31 de maio a 2 de junho, e o Centro-Oeste, em Campo Grande (MS), de 9 a 11 de agosto. Também este ano, ocorrerá no Rio de Janeiro (RJ) a I Conferência Pan-Americana de Saúde do Trabalhador e Saúde Ambiental, evento resultado da colaboração entre a ANAMT, o American College of Occupational and Environmental Medicine (ACOEM) e a Associação Latino-americana de Saúde Ocupacional (ALSO). A Conferência será realizada entre 27 e 29 de setembro.

Ainda no âmbito internacional, a ANAMT representará o Brasil no 32nd International Congress on Occupational Health, da ICOH. A Associação ofereceu incentivo, incluindo apoio financeiro, para a inscrição de trabalhos brasileiros associados no evento, que ocorrerá em Dublin (Irlanda).

Capa do livro ANAMT – 50 anos em 50 histórias

Por |2018-03-26T13:37:58-03:0026 de março de 2018|Sem categoria|