Empresas dizem que faltam pessoas com deficiência qualificadas; especialistas refutam

Empresas dizem que faltam pessoas com deficiência qualificadas; especialistas refutam

Data: 27 de junho

Enquanto a área de recursos humanos das empresas tende a ver a contratação de pessoas com deficiência como mais difícil, apontando como problema principalmente a falta de profissionais qualificados disponíveis, especialistas criticam a predisposição de muitas delas de oferecer apenas vagas operacionais para esse público.

Em pesquisa realizada em 2015 pelo portal de vagas Catho, em parceria com a empresa de recrutamento de pessoas com deficiência i.Social, 87% dos cerca de 1.500 profissionais da área de recursos humanos entrevistados disseram que recrutar pessoas com deficiência é mais difícil do que selecionar outros profissionais.

Pouco mais da metade (53%) afirmou que a qualificação desses profissionais é negativa ou muito negativa, enquanto apenas 9% disseram que a qualificação é positiva ou muito positiva.

Acesso difícil

Wolnei Tadeu Ferreira, diretor Jurídico da ABRH-Brasil (Associação Brasileira de Recursos Humanos), concorda que a dificuldade de encontrar profissionais com deficiência preparados é um dos principais desafios para que empresas contratem mais.

Outro problema apontado por Ferreira está na falta de acessibilidade nos espaços públicos. é possível que a empresa tenha ambiente adequado, mas que a locomoção na cidade em que ela está dificulte a ida ao trabalho, exemplifica ele.

Mais bem formados

Já especialistas em seleção de pessoas com deficiência refutam a afirmação das empresas de que é difícil encontrar profissionais. Também questionam o engajamento das que usam o argumento com o tema, seus métodos de recrutamento e a qualidade das vagas que oferecem.

Jaques Haber, sócio da i.Social, diz que sua consultoria tem 80 mil candidatos, todos com deficiência, no banco de currículos. Desses, metade possui ensino superior.

A consultoria recebe 300 pedidos por mês, 280 deles, porém, para vagas operacionais, que exigem pouca formação e têm salário baixo.

“Muitas empresas encaram a contratação da pessoa com deficiência como um custo, não como um investimento. Não percebem a possibilidade de ganhar trazendo uma pessoa com experiência de vida diferente, que

possa oferecer perspectivas novas para a empresa.”

No site de empregos Vagas.com, 69% das vagas para pessoas com deficiência são para cargos de auxiliar – a porcentagem de anúncios para esse tipo de vaga cai para 32% no restante das vagas.

O tamanho da diferença não equivale à formação dos candidatos cadastrados. Entre os com deficiência, 48% tem ensino superior, contra 53% dos candidatos sem deficiência com essa formação.

Dados do Censo, do IBGE, mostram que 6,7% das pessoas com deficiência com mais de 15 anos em 2010 possuíam ensino superior. Em toda a população brasileira, o percentual é de 10,7%.

Desestímulo

Um problema dos cargos operacionais é que ser pouco atrativos para quem tem deficiência severa.

O governo possui programas sociais para esse público, dos quais se deve abrir mão ao assumir um emprego. Isso desestimula o profissional a assumir um cargo de salário baixo, diz Manoela Costa, gerente-executiva da Page PCD, braço especializado em pessoas com deficiência do grupo Michael Page.

Segundo ela, há um número alto de profissionais autônomos e qualificados. A consultoria consegue preencher entre 80% e 90% das solicitações de seus clientes. A média de salário dos indicados pela empresa é de R$ 5.000.

A pesquisa da i.Social e da Catho mostra que para 85% dos profissionais de recursos humanos as cotas são a principal motivação para contratar pessoas com deficiência.

Segundo os respondentes, 11% dos gestores de empresa têm resistência a entrevistar pessoas com deficiência e 56% resistem a contratá-las.

(Fonte: Folha de S. Paulo)

Por |2016-06-27T14:34:29-03:0027 de junho de 2016|Notícias|