FATOS PORTADORES DE FUTURO
Renovação e protagonismo
Atuação do Brasil impulsiona a Associação Latino-Americana de Saúde Ocupacional
René Mendes
A realização do XIV Congresso Latino-Americano de Saúde Ocupacional, na última semana de outubro, em Lima, Peru, foi marcada por uma série de indicadores de sucesso, tanto do ponto de vista quantitativo – cerca de 700 participantes, de todos os países latinoamericanos continentais e insulares do Caribe, além de participantes espanhóis e dos EUA –, como qualitativamente. Nesse contexto, qualidade refere-se à profundidade e riqueza do conteúdo técnico-científico, como, também, à importante dimensão política, pois que alvissareiros fatos portadores de futuro lá ocorreram, com o exato significado atribuído por Michel Godet a esse conceito: “sinais ínfimos, por sua dimensão presente, existentes no ambiente, mas imensos por suas consequências e potencialidades”.
Para os que não estão familiarizados com a Associação Latino-Americana de Saúde Ocupacional – ALSO, é oportuno lembrar que, em 1991, por ocasião do VII Congresso da Associação Nacional de Medicina do Trabalho – ANAMT, realizado em Campos do Jordão – SP, foi aprovada proposta argentina formulada pelo Dr. Guilhermo D’Aragona (1934-2009), de se criar uma entidade associativa de âmbito latino-americano, batizada com o nome de ALSO. A proposta argentina recebeu a adesão imediata de um grupo de países instituidores, ou melhor, de entidades nacionais instituidoras – na verdade, entidades associativas de Medicina do Trabalho -, com a característica de que a nova entidade seria uma espécie de “federação latino-americana”, ou, uma “associação de associações”.
Desde então, eventos latino-americanos vêm sendo realizados a cada dois anos, e, por duas vezes, eles ocorreram no Brasil, país que também ocupou a Presidência, por dois biênios. O Dr. Casimiro Pereira Júnior e o Dr. João Alberto Maeso Montes foram presidentes da ALSO, e vários outros colegas brasileiros destacaram-se em distintos cargos diretivos da entidade.
No rodízio regional, o Peru, por meio da Sociedade Peruana de Saúde Ocupacional – SOPESO, sediou em Lima o 14º. Congresso Latino-Americano de Saúde Ocupacional, promovido pela ALSO, o qual atraiu além dos 700 participantes, oriundos de muitos países da região, mais de 60 palestrantes e conferencistas de fora do Peru, incluindo três
brasileiros.
Reconstituir essa breve história do movimento associativo de SST na América Latina – por certo, não o único – e elogiar a elevada capacidade peruana de organizar um evento desse porte, nada mais é, no contexto de nossa coluna, se não o preâmbulo necessário para a identificação do fato portador de futuro (talvez, mais corretamente, dos fatos portadores de futuro). Na opinião desse analista, no caso, também testemunha e protagonista do evento em Lima, merecem ser destacadas e saudadas a renovação da missão, da visão e dos objetivos dessa entidade latino-americana, a partir do 14º. Congresso, recém realizado.
Com efeito, e graças ao forte protagonismo da delegação brasileira, coordenada pelo Presidente da ANAMT, Dr. Zuher Handar, avançou-se no entendimento de abertura da entidade para a filiação de outras associações e entidades nacionais do campo da Saúde e Segurança do Trabalho, isto é, para além das de Medicina do Trabalho (instituidoras históricas da ALSO), nelas incluídas – entre outras – a Segurança do Trabalho, a Ergonomia, a Enfermagem do Trabalho, a Higiene Ocupacional, a Fisioterapia do Trabalho, a Psicologia do Trabalho, a Odontologia Ocupacional etc. Um grande avanço no entendimento da necessária atuação multiprofissional e multidisciplinar no complexo campo da SST!
Aprovou-se, também, uma decisão de grande potencial, ou seja, a abertura das filiações individuais, tal como já ocorre na Comissão Internacional de Saúde no Trabalho – ICOH. Poderemos ser mais fortes, unindo-nos em torno de objetivos continentais em prol da defesa da saúde e segurança dos trabalhadores.
Por último, em resposta a proposta brasileira, aprovou-se o documento “Declaração de Lima”, o qual resume um ambicioso conjunto de compromissos continentais e uma agenda de luta comum e de harmonização de esforços. Um pacto pelo imediato banimento do amianto na América Latina faz parte da pauta acordada em Lima.
Estamos certos de que esses fatos portadores de futuro da SST têm potencial para elevar a saúde e segurança dos trabalhadores latino-americanos a patamares mais elevados que os atuais, posto que ainda inaceitáveis. Com a vantagem de que você e eu poderemos construir juntos, esse novo futuro! Bem vindos a ele!