Trabalhador da saúde não olha para a própria saúde

Trabalhador da saúde não olha para a própria saúde

Data: 20 de maio

Transtornos mentais e comportamentais, burnout, assédio moral, riscos biológicos, acidentes com materiais perfurocortantes são alguns dos problemas que afetam os trabalhadores do setor de saúde. Essas questões foram apresentadas pela tecnologista da Fundacentro, Tereza Ferreira, no II Ciclo de Palestra realizado pela instituição no Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimento de Serviço de Saúde de Santos – SintraSaúde, em 19 de maio.

A psicóloga Tereza Ferreira realizou estudos com enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. Ela percebeu um desconhecimento sobre os riscos biológicos, a falta de espaço para descanso desses profissionais, problemas de iluminação e ventilação, equipamentos sucateados, jornada dupla e sobrecarga de trabalho. “Há muitas queixas em relação às condições de trabalho. Por exemplo, se o colega faltar no plantão, alguém precisa preencher a lacuna”, relata.

Entre os profissionais de enfermagem, os auxiliares e técnicos estão mais voltados para o trabalho com o paciente. Já os de formação universitária, para trabalhos administrativos. O processo de cuidar está ligado ao sofrimento.

“Você lida com vida humanas e há necessidade de disponibilizar sempre outras oportunidades, como ter a medicação e outras facilidades que diminuam a dor e o sofrimento de quem procura o serviço de saúde”, explica a psicóloga.

Por outro lado, há lacuna a ser preenchida em relação aos acidentes de trabalho sofridos pelos trabalhadores de limpeza, da lavanderia e da manutenção no setor de saúde. Eles sofrem, por exemplo, acidentes perfurocortantes e estão expostos a riscos biológicos. “Os acidentes não aparecem e não há preocupação com eles, que também são trabalhadores da saúde. Essas pessoas precisam de atenção”, alerta Tereza Ferreira.

Segundo dados de Cristiane Rapparini, entre 2007 e 2010, 52% dos acidentes de trabalho com material biológico no estado de São Paulo atingiram auxiliares e técnicos de enfermagem; 10% – médicos; 6,7% – enfermeiros; 6,3% – estudantes; 5,7% auxiliares de limpeza; 1,8% coletor de lixo. No Brasil, entre 2006 e 2010, foram 85.374 acidentes desse tipo. Já estatísticas da OMS, de 2002, apontam a ocorrência de 3 milhões de acidentes percutâneos por agulhas contaminadas por material biológico por ano.

A apresentação da psicóloga em PDF será disponibilizada na página da Fundacentro, em Eventos Realizados – Palestra Saúde do Trabalhador da Saúde.

Violência laboral

Outra questão abordada foi a violência laboral. No setor da saúde, o assédio moral ocorre de chefias para pessoal de enfermagem e subordinados, e entre colegas de mesmo nível. Muitas vezes é organizacional, pois é estimulado e ocorre como política da empresa.

“Mexer com perseguição e humilhação é mexer com a dignidade da pessoa. Se passa mensagem de constrangimento e de humilhação, a pessoa passa a acreditar que é aquilo que o outro falou. Esse sofrimento ele leva”, aponta a tecnologista da Fundacentro.

Também há violências como agressões físicas e morais de usuários e de acompanhantes, além de casos de assédio sexual.

Burnout

O burnout é outro problema que afeta a categoria por estar associado a profissionais ou atividades que têm como objeto de trabalho o cuidar de outros, com contato constante e direto. Caracteriza-se pela perda de energia, esgotamento e sentimento de fadiga constante. “Significa queima, exaustão, combustão, a pessoa se exaure”, afirma Tereza.

Sintomas indicativos desse problema são sentimentos de desesperança, solidão, depressão, raiva, impaciência, irritabilidade, tensão, diminuição de empatia; sensação de baixa energia, fraqueza, preocupação; aumento da suscetibilidade para doenças, cefaleias, náuseas, tensão muscular, dor lombar ou cervical, distúrbios do sono; sensação de alienação em relação aos outros, sendo a presença desses, muitas vezes, desagradável e não desejada.

“é importante ficarmos atentos. Os trabalhadores da saúde, pelo que pesquisei, têm uma dificuldade para lidar com a própria saúde. Eu lido com isso e não vou adoecer. é um pensamento mágico de que resolvendo o problema do outro, não vou desenvolver. O que dificulta o olhar para si. é a dificuldade de falar de quem cuida. Isso tem a ver com a política de empresa e cultura. Vemos com médicos muitos problemas de dependência química, mas pouco se fala sobre isso”, analisa a psicóloga.

Nesse cenário, é preciso lidar com os problemas de saúde de forma coletiva e não de maneira individual e pessoal como se costuma fazer, alimentando o sentimento de culpa do trabalhador. São questões que precisam ser tratadas de forma organizacional.

Autoridades

O evento realizado pela Fundacentro da Baixada Santista no SintraSaúde contou com a presença de autoridades na mesa de abertura e de encerramento, o que possibilitou um debate com os trabalhadores do setor da saúde.

Estiveram presentes o presidente e o secretário geral do SintraSaúde, Paulo Pimentel e Ademir Irussa, respectivamente; o procurador Rodrigo Pedroso, do Ministério Público do Trabalho – MPT; o auditor fiscal e médico, Gionei Gomes da Silva, gerente da Gerência Regional do Trabalho e Emprego; a presidenta da Fundacentro, Maria Amelia de Souza Reis, e o chefe da Fundacentro Baixada Santista, Josué Amador da Silva.

“Há muito tempo lutamos para que a Fundacentro retornasse a Santos. Temos feito essa parceria em relação à saúde e segurança dos trabalhadores, que é tão complicada em nossa área. Convidamos profissionais de hospitais e clínicas para o evento, e todos gostaram muito”, avalia Ademir Irussa.

“Santos é um microcosmos de estudos para que possamos levar os resultados científicos para outros espaços”, conclui Maria Amelia de Souza Reis.

Fonte: Fundacentro

Por |2015-05-21T16:02:24-03:0021 de maio de 2015|Notícias|