Transtornos mentais resultam em afastamentos

Transtornos mentais resultam em afastamentos

Data: 14 de dezembro

Uma pesquisa feita pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelou que pessoas com transtornos mentais, como depressão, ansiedade e estresse, têm de duas a três vezes mais riscos de perder o emprego. Ao mesmo tempo, a organização estima o surgimento de mais de 160 milhões de casos de doenças relacionadas ao trabalho por ano. Isso significa que 2% da população mundial, em média, é acometida, anualmente, por algum tipo de enfermidade devido à atividade que exerce profissionalmente. Os transtornos mentais estão entre as doenças que mais geram mortes de trabalhadores, ao lado das doenças que afetam o pulmão, músculos e ossos.

No Brasil, de acordo com o último acompanhamento mensal de benefícios da Previdência Social, de fevereiro de 2013, a cada sete benefícios concedidos por afastamento devido doença relacionada ao trabalho, apenas um é pago por acidente. Dos 166,4 mil auxílios-doença concedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), cerca de 15,2 mil são por problemas mentais ou comportamentais. A depressão é a causa mais comum com mais de 5,5 mil casos.

Procurando entender esse cenário, o médico João Silvestre da Silva Júnior, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, entrevistou 385 pessoas que ficaram afastadas por no mínimo 15 dias do trabalho devido a transtornos mentais. O estudo revelou que uma empresa que impõe demandas excessivas ao colaborador e em contrapartida oferta recompensas inadequadas ao esforço exigido contribui para agravar esse quadro. Os problemas se agravam em um ambiente no qual são recorrentes situações de violência, assédio moral ou sexual, bullying e agressões físicas. “A pressão por resultados impossíveis de serem alcançados leva o trabalhador à exaustão e a competição no ambiente de trabalho minimiza o apoio social entre colegas e com a chefia, mantendo a tensão crônica”, comenta.

Os maiores riscos de afastamento de trabalho por distúrbios psíquicos, segundo o médico, foram verificados entre mulheres de cor branca, com alta escolaridade, que fumam e bebem demasiadamente além de apresentarem outros problemas de saúde. “A causa do adoecimento mental é multifatorial. Vários fatores interagem entre si para o desencadeamento ou agravamento de uma doença. Por isso, é difícil de diagnosticar”, explica.

Silva Júnior acredita que as empresas ainda têm dificuldade de lidar com esses casos porque não entram em contato direto com profissionais de saúde do trabalho, médicos, enfermeiros e técnicos de segurança. “Todas as empresas são obrigadas a montar um Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional, mas poucos são aqueles que reconhecem o ambiente de trabalho como um risco à saúde do trabalhador. A falta de conhecimento é o que dificulta a abordagem do problema e a instituição de medidas preventivas eficazes”, afirma.

Três perguntas ao Médico do Trabalho João Silvestre Silva Júnior

O adoecimento do trabalhador por estresse é multifatorial

1 – Esses transtornos são o resultando das novas tecnologias e de mudanças sociais no mundo do trabalho?

— “Pesquisadores descrevem que a reorganização produtiva devido à globalização, que vem ocorrendo desde meados dos anos 1980, contribuiu para a eclosão das doenças relacionadas ao estresse no trabalho. As condições estressoras se espalharam pelo mundo por causa das políticas gerenciais multi ou transnacionais. Todavia, como já citado, o adoecimento é multifatorial e outras variáveis devem ser levadas em consideração na avaliação dos casos e definição de medidas de controle ou intervenção.

2 – é o trabalhador estressado que prejudica a empresa ou é a empresa com clima estressante que prejudica o trabalhador?

— “Há várias décadas, pesquisas científicas demonstraram que os ambientes de trabalho, cuja organização de processos e tarefas é estressante, provocam problemas cardiovasculares, osteomusculares e mentais, inclusive casos graves, entre os trabalhadores. O trabalhador estressado não vai estar no seu nível pleno de saúde física e mental, portanto pode ter sua capacidade de trabalho reduzida, gerando impactos negativos na produtividade esperada. Há perdas para os dois lados.

3 – Nesses casos, afastar o colaborador da empresa é a melhor solução?

— “A falta de conhecimento sobre os transtornos mentais traz estigmas sobre as pessoas que apresentam esta condição. Essas doenças, geralmente, são quadros crônicos que, dependendo do seguimento médico, podem cursar com episódios de faltas ao trabalho. Portanto, ao criar um rótulo que o doente mental é “problemático”, as empresas deixam de contratar ou passam a demitir esses trabalhadores pelo “risco” que podem apresentar. Hoje, já se sabe que o afastamento não é interessante do ponto de vista econômico ou social, mas, dependendo do grau do adoecimento, é uma medida necessária.

Fonte: O Diário de Maringá

Por |2014-12-17T11:16:29-02:0017 de dezembro de 2014|Notícias|