Data: 27 de maio
O debate “Sustentabilidade nas empresas e mercado de trabalho: Significados e realidade atual”, realizado no dia 15 de maio na Fundacentro, em São Paulo, mostrou a dificuldade em se construir ações efetivas para os problemas que afetam o mundo do trabalho e a questão da sustentabilidade.
“Nós temos um mundo de trabalho que reflete a falta de racionalidade, de valores, de humanidade de nossa sociedade. Não é possível separar o mundo do trabalho como algo que existe no vácuo”, avaliou o pesquisador Marco Antônio Silveira, do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer – CTI, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação – MCTI.
“Toda a perversidade, todos os problemas refletem a nossa sociedade como um todo. Nós vivemos em uma sociedade doente, e há dificuldade de trazer soluções efetivas”, completou Silveira.
Para Luiz Salvador, presidente da Associação Latino-americana de Advogados Trabalhistas – ALAL, muitas vezes as ações preconizadas pelas empresas em relação à sustentabilidade e ao trabalho ficam no nível do discurso. A precarização do trabalho foi um dos grandes problemas citados pelo advogado.
“Hoje temos uma questão de economia que leva a tudo isso. O cidadão é tratado como mero objeto”, afirmou Salvador. Segundo o advogado, ainda é preciso lutar para que se cumpram os princípios básicos da Constituição em relação ao trabalho.
Já a pesquisadora da Fundacentro, Maria Maeno, acredita que, na prática, as empresas não querem discutir os aspectos organizacionais. A questão da meta, por exemplo, deixa de ser discutida em comissões tripartites, pois é olhada como um aspecto econômico e de gestão, sem ser feita a análise no âmbito do trabalho. A Previdência, por sua vez, segue a lógica privada. “O trabalho está em extinção porque não é valorizado pelo Estado”, concluiu a médica.
Busca de soluções
Além do grande espaço para discussões, o evento trouxe duas apresentações, que mediaram os debates. O gerente do Núcleo Estratégico do Sesi/BA, Kenneth de Almeida, que é doutor em administração pela Universidade Federal de Lavras e tem pós-doutorado pela Universidade de São Paulo – USP, apresentou algumas ações realizadas pelo Serviço Social da Indústria – Sesi, como gerenciamento do estresse e diagnóstico de clima organizacional.
Em sua apresentação, Kenneth de Almeida ressaltou a questão do afastamento do trabalho devido a fatores psicossociais, que deve ser considerada quando se fala em sustentabilidade. é importante que esse debate inclua todos os atores do processo. A subjetividade foi apontada como central. Ele também falou sobre o Prima – modelo europeu de Gestão de Riscos Psicossociais, que foi traduzido para o português pelo Sesi.
Já o doutor em engenharia de produção pela USP, Claudio Brunoro, apresentou parte de sua pesquisa de doutorado, em que entrevistou gestores de empresas. Ele apontou as diretrizes seguidas pelas corporações e como o tema sustentabilidade aparece em diferentes documentos internacionais, por exemplo, a Agenda 21 da Eco 92 e Convenções da Organização Internacional do Trabalho – OIT.
A partir das entrevistas se constatou que o trabalho em um contexto de sustentabilidade aparece como positivo para a empresa e a pessoa. é o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Outros pontos levantados foram: orgulho de ser da organização; saúde integral; trabalhador como protagonista da sustentabilidade; e trabalho com sentido e significado, que leve à felicidade.
O pesquisador destacou as dimensões econômica, social e ambiental, que sempre aparecem nos textos de sustentabilidade. Mas não se pode esquecer que os seres humanos estão no centro. “Não existe sustentabilidade sem trabalho. A pessoa tem que dar de si para a sustentabilidade acontecer”, explicou Brunoro.
A sustentabilidade corporativa só será possível com um sistema de produção sustentável e um ambiente de trabalho saudável. Essa união levará ao desenvolvimento sustentável. “Geralmente os discursos das empresas estão no nível dos indivíduos, mas é mais amplo falar do trabalho, de seu conteúdo, que traz sentido, de como é organizado”, continuou o engenheiro.
é preciso chegar às causas e não apenas minimizar os efeitos. Para tanto, deve-se “possibilitar que o trabalho não seja a variável de ajuste do processo”, pois o trabalho deve ser adequado ao ser humano e não o contrário.
Na apresentação, que está disponível no link, o trabalho ou o trabalhar é definido como “aquele que, provido de sentido e permeado pelas relações de confiança e cooperação, melhora o desempenho da organização, promove o desenvolvimento profissional, possibilita a construção da saúde dos trabalhadores em um sentido amplo e positivo, favorece o desenvolvimento da criatividade e a mobilização das inteligências, considerando a relevância das questões físicas, cognitivas e organizacionais e, sobretudo, ocupa posição central para o desenvolvimento da cultura e da sociedade”.
“As apresentações sinalizam caminhos para essas coisas acontecerem. é preciso mexer no projeto da organização do trabalho. é preciso mexer no DNA de uma forma que seja compatível com a realidade do mercado e das organizações. Tem que chamar quem pensa o processo para isso ser desenvolvido em conjunto. A complexidade requer uma abordagem multidisciplinar do problema para construirmos soluções viáveis. Precisamos trabalhar no nível das instituições”, avaliou Marco Silveira.
O evento foi realizado pela Rede SST – Rede de Saúde e Segurança do Trabalhador, uma iniciativa da Fundacentro, que conta com a participação de diversas instituições. Mais informações no link.
Fonte: Fundacentro