Data: 14 de janeiro
Passar boa parte do nosso tempo sentado é tão comum que pouca gente reflete sobre os efeitos negativos que o ato pode trazer para a saúde. E o problema não é só para a coluna, apesar dessa ser a primeira coisa que passa pela cabeça quando se pensa na questão. Ao fazer uma pesquisa rápida sobre o assunto você vai perceber que a comunidade científica já associou o ato de ficar sentado por muito tempo a problemas cardíacos, circulatórios, aumento na incidência de infartos, diabetes e até com à diminuição do tempo de vida.
Se, mesmo com essas informações, você pensou que o assunto não é tão sério, faça as contas. Oito horas diárias sentado no escritório, mais o tempo que você gasta dirigindo, no ônibus ou no metrô indo e voltando para casa, além das horas sentado no sofá ou usando o computador, tudo isso junto é muito mais do que os seus avós costumavam passar sentados e é bem mais do que especialistas acreditam que deveríamos fazer.
Uma publicação, de 2012, da Universidade de Leicester, na Inglaterra, analisou dados sobre longas horas na posição, tirados de 18 estudos envolvendo mais de 794 mil pessoas. A análise mostrou que as pessoas têm o costume de gastar entre 50% e 70% do tempo sentadas. Os pesquisadores ainda concluíram que quem mais ficava assim tinha um aumento de 112% nas chances de ter diabetes, 147% mais risco de desenvolver doenças cardiovasculares e a probabilidade 49% maior de morrer prematuramente – mesmo quando eles se exercitavam regularmente.
Um vídeo, patrocinado por uma empresa fabricante de cadeiras ergométricas, faz um alerta para a situação e deixa claro que, mesmo levando uma vida com atividades físicas diárias, mais de 10 horas na mesma posição é um problema extremamente comum e sério. A produção também mostra soluções para evitar os danos à saúde causados pela inatividade, como levantar (e se movimentar) a cada meia hora ou fazer alguns alongamentos periodicamente.
Uma das raízes do problema é que a inatividade muscular pode interferir em importantes processos do corpo. Pesquisadores da Universidade de Leicester acreditam que ela aumente em 73% a chance de desenvolvimento da chamada síndrome metabólica. A base desse problema é a resistência insulínica – que é a dificuldade encontrada pela insulina de retirar a glicose do sangue ou processar gorduras. O resultado disso pode ser a hipertensão, aumento de glicose e queda do colesterol bom (aquele que evita a formação de placas de gordura nas artérias).
Coração periférico
“Do ponto de vista vascular, o grande problema é que o sangue tem que retornar ao coração e para que ele volte é importante que a panturrilha trabalhe”, explica o diretor Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, Bruno de Lima Naves. “Quando você está parado esse retorno é muito lento. Em dias quentes, quando os vasos dilatam, ele fica mais lento ainda, por isso é normal que a perna fique pesada e até inchada”, completa. A importância desse tipo de movimento das pernas faz com que especialistas da área chamem a panturrilha de “coração venoso periférico”.
O médico também diz que longos períodos de inatividade estimulam a produção de toxinas. “As trocas gasosas ficam mais difíceis, o sangue fica mais grosso e isso também é negativo. O ser humano precisa de movimento”, ressalta. A falta de circulação ainda pode resultar em hemorróidas, que são varizes, e no mau funcionamento do intestino, que precisa de movimento para impedir que as fezes fiquem enrijecidas.
Mais tempo sentado, menos tempo de vida
Por consequência, ficar muito tempo parado cria condições que podem reduzir sua expectativa de vida. Cientistas de diferentes partes do mundo reforçam a teoria. Um estudo, publicado em 2012 no British Journal of Sports Medicine, feito pela Universidade de Queensland, da Austrália, constatou que cada hora de televisão no sofá reduz a expectativa de vida do telespectador com mais de 25 anos em 21.8 minutos. A pesquisa também analisou dados referentes ao hábito de fumar e concluiu, curiosamente, que o cigarro não reduz tanto a vida quanto ficar sentado – diminuindo a expectativa em 11 minutos.
No geral, segundo os australianos, o simples ato de ficar sentado vendo TV ou fazendo outra atividade, durante uma média de seis horas diárias, pode diminuir a vida de um adulto em espantosos 4,8 anos.
Nem malhar ajuda
Em um estudo específico sobre a relação da síndrome metabólica e o tempo que passamos sentados, os pesquisadores de Leicester deixam bem claro que aquele tempo que você gasta na academia e acha que compensa pelo que passa parado não muda em nada seu risco de desenvolver as doenças listadas. “O tempo no sedentarismo pode ser um determinante independente de disfunções metabólicas”, reforça o trabalho.
Ou seja, o melhor jeito de evitar esses prejuízos é não ficar tanto tempo sentado. Para tanto, algumas soluções sugeridas por especialistas vão desde comer em pé à levantar a cada meia hora durante o trabalho e se mexer por, pelo menos, cinco minutos. Apoios de pé móveis, que permitem a movimentação da panturrilha, também são úteis – na falta deles vale, como mostra o vídeo, fazer alongamentos periódicos ajuda.
Reduzindo seu tempo sentado em menos três horas por dia pode te adicionar uns aninhos de vida. Um estudo norte-americano, publicado no British Medical Journal, fez as contas e sugere que essa mudança pode estender a vida em dois anos. Já se você conseguir passar duas horas a mais em pé terá a chance de apagar velhinhas ao menos mais uma vez.
Cuidado com a maneira como você se senta
O especialista em cirurgia da coluna e presidente da regional mineirada Sociedade Brasileira de Coluna Rodrigo D`Alessandro afirma que a literatura médica diz pouco sobre os efeitos de se passar muito tempo sentado para a coluna. O problema maior, na opinião dele, está na ergonomia. “Ficar muito tempo sentado de forma correta é uma coisa, do jeito errado é outra”, pontua.
Segundo o especialista, ao sentar na posição errada existe uma grande predisposição a se pressionar os discos intervertebrais, o que pode causar dor lombar. A melhor posição para a coluna é preservar a lordose lombar, ficando com a coluna retificada.
Ainda é importante manter a tela do computador na altura dos olhos. Uma posição equivocada pode causar desconforto na região da coluna vertebral. D`Alessandro também alerta para a importância de se apoiar os cotovelos na mesa, trabalhar sempre com o punho levemente estendido e com os joelhos apoiados de forma a se ter flexão do tornozelo.
Fonte: Revista Proteção