Data: 30/12/2013
Estudo divulgado recentemente pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) revelou que exposição prolongada aos solventes existentes na gasolina pode provocar danos neurológicos em frentista de postos de combustível. A pesquisa foi realizada com 25 trabalhadores da capital paulista. Na ocasião, foram feitos exames visuais para identificar perturbações em grupos de células do cérebro.
Durante análises observou-se que ocorreram alterações consideráveis em todas as atividades sugeridas, explica o responsável pelo levantamento, Thiago Leiros Costa. “Estudamos a visão para entender se o cérebro tinha sido alterado pela exposição ao solvente. E vimos que a atividade cerebral pode ser afetada de maneira maléfica”, aponta o pesquisador.
As verificações mediram a discriminação de cores, sensibilidade ao contraste e sensibilidade em diferentes pontos do campo visual. “Na maioria dos testes, o pesquisado tinha que discriminar o estímulo de um fundo. O estímulo ia se misturando com o fundo até um ponto em que o voluntário não consegue mais diferenciar. Conseguimos entender como está a sensibilidade para esse tipo de estímulo”, esclarece.
De acordo com o estudo, o participante foi submetido a testes oftalmológicos que descartaram qualquer alteração estrutural na córnea, no cristalino ou no fundo do olho. Apesar disso, os voluntários apresentaram um baixo desempenho na comparação com o grupo controle. Em quatro frentistas, a perda de sensibilidade para cores foi tão surpreendente que foi preciso realizar um teste genético para descartar a possibilidade de daltonismo congênito – incapacidade de perceber diferenças entre algumas cores que outras pessoas podem distinguir.
“Não é uma alteração na lente do olho. É uma alteração do nível cerebral, seja na retina ou em outras áreas. O fato de a gente ter encontrado alteração em todos os testes, que mediam atividades em diferentes grupos de células do cérebro, podemos dizer que é uma perda difusa e que provavelmente não se limita exclusivamente ao sistema visual”, afirma Costa.
Os testes também já foram aplicados em pacientes que sofreram exposição ao mercúrio e em portadores de doenças como diabetes, glaucoma, Parkinson, esclerose múltipla, autismo, distrofia muscular de Duchenne e neuropatia óptica hereditária de Leber – uma patologia genética que costuma causar perda súbita de visão.
Período de exposição
Segundo Dalmi Feitosa, de 36 anos, que há oito anos trabalha como frentista de posto de combustível, ele fica exposto, no mínimo, 8 horas por dia aos solventes de gasolina. “O fluxo de veículos por aqui (local de trabalho) é contínuo. Muitas vezes, quando faço hora extra, chego a trabalhar 10 ou 12 horas com abastecimento”, conta Feitosa. Ele diz não ter percebido ainda nenhuma alteração neurológica, mas “vou passar a observar os sintomas, já que nunca liguei o fato de sentir mal com o exercício da profissão”, salienta.
O pesquisador da USP alerta que quanto maior o tempo de exposição aos solventes, maiores são os danos neurológicos. “O tipo de perda que encontramos progrediu com tempo”, destaca Costa. Segundo o cientista, as principais vias de contato dos frentistas com substâncias químicas se dá através do sistema respiratório. “Além disso, é possível que haja certo nível de intoxicação pelo contato com a pele e das mucosas”, aponta.
Apesar dos resultados do estudo servirem de alerta para os riscos da profissão de frentista de posto de combustível, Thiago Costa, da USP, ressalta a necessidade de ampliar pesquisas no campo da medicina do trabalho para definir se Equipamentos de Proteções Individuais (EPI´s) seriam eficazes na segurança e proteção aos trabalhadores.
Fonte: Diário da Manhã