Trabalhadores protestam contra trabalho extenuante em Manaus

Trabalhadores protestam contra trabalho extenuante em Manaus

Data: 17 de dezembro

O trabalho normal na Arena da Amazônia Vivaldo Lima não tem previsão para ser retomado. A obra está parada desde o último domingo (15) depois que a Justiça do Trabalho determinou a interdição imediata dos serviços, em altura superior a dois metros, motivada pela morte de um operário no estádio e outro no Centro de Convenções do Amazonas.

Na segunda (16), nenhum serviço foi realizado na arena, conforme o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção Civil do Amazonas (Sintracomec-AM). No final da tarde, contudo, a Unidade Gestora da Copa (UGP-Copa) divulgou nota contestando o sindicato e garantindo que a obra seguiu no ritmo estabelecido pela Justiça do Trabalho.

Apesar da interdição da Justiça do Trabalho se limitar à cobertura da arena, uma boa parte dos 1,7 mil operários cruzaram os braços do lado de fora da arena em protesto contra a falta de segurança, além de salários atrasados e excesso de horas extras. Os trabalhadores afirmaram que estão sendo obrigados pela Construtora Andrade Gutierrez S/A a trabalhar até 12 horas diárias e 60 semanais, em desacordo com as leis trabalhistas.

Procuradores do Ministério Público do Trabalho (MPT) realizaram, ontem, uma vistoria no estádio durante todo o dia. O objetivo foi verificar se direitos trabalhistas e as condições de segurança dos operários estão sendo cumpridas. Houve confusão por volta das 6h30, hora que os funcionários deveriam começar o primeiro turno de trabalho. Eles se recusaram a entrar, mas segundo o presidente do Sintracomec-AM, Cícero Custódio, foram obrigados pelos seguranças da empresa a bater o ponto. Houve confusão e um operário ficou ferido, depois de ter a mão imprensada contra uma porta.

Dezenas de operários, dentro e fora da arena, gritaram fazendo críticas às condições de trabalho extenuantes a que são submetidos. Segundo o encanador Rosinaldo de Sá Batista, 27, a construtora está pressionando os operários a cumprir horas extras. “Se não fizer, vai para a rua. A empresa pressiona para fazer hora extra, mas pagar que é bom, nada. Tenho três sábados de horas extras e um feriado para receber e até agora não recebi. Hoje (segunda), na greve, nossos encarregados estão marcando quem está de greve para mandar demitir depois. Temos que parar, sim, para chamar atenção e dar segurança pra gente”, disse.

Segundo Custódio, a pressão aos funcionários se intensificou nas últimas semanas. Ele acredita que a empresa está ditando o novo ritmo de trabalho, descumprindo a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), para que a Arena da Amazônia seja finalizada até janeiro de 2014. A entrega estava prevista para o próximo sábado, mas foi adiada.

`Não havia acordo para trabalho durante a noiteÂÂÂ’, diz presidente do Sindicato

O Sintracomec-AM fez uma série de denúncias durante a visita do Ministério Público do Trabalho (MPT) à Arena da Amazônia. Entre elas, o trabalho ilegal durante a noite. Segundo Cícero Custódio, a Construtora Andrade Gutierrez S/A só poderia manter os operários no trabalho noturno se tivesse assinado um acordo discutido com o Sindicato, MPT e Delegacia Regional do Trabalho. Ele afirmou que o “turno ilegal” de trabalho, como chama, estava sendo mantido sem o consentimento de nenhum órgão trabalhista.

Na madrugada de sábado, o operário Marcleudo de Melo Ferreira, 22, morreu depois de cair de uma altura de 35 metros, enquanto trabalhava na montagem da cobertura do estádio. Cícero disse que Marcleudo começou o trabalho na cobertura às 20h e iria ficar até às 8h de sábado, num total de 12 horas de serviço. “Isso é um erro da empresa. Trabalhar na Arena à noite não pode, porque é horário de risco e não teve acordo para isso. Essa situação nem foi discutida e o trabalhador não poderia cumprir a jornada de trabalho que esta sendo imposta pela empresa. Mais uma vez, a obra está embargada por negligência da empresa”, disse.

Aproximadamente seis horas depois da morte de Marcleudo, o operário José Antônio da Silva Nascimento, 49, sofreu um infarto e morreu no Centro de Convenções da Amazônia (CCA), ao lado da Arena. Em março deste ano, outro operário também morreu depois de cair de uma altura de cinco metros.

Custódio disse que, a exemplo dos outros 1,7 mil operários, José Antônio também estava sendo obrigado a cumprir uma jornada excessiva de trabalho. “Se as horas a mais de trabalho têm ligação com o infarto, é uma coisa a ser apurada”, destacou.

Fonte: Revista Proteção

Por |2013-12-17T00:00:00-02:0017 de dezembro de 2013|Notícias|