Fundacentro estuda trabalho de cuidadoras de idosos

Fundacentro estuda trabalho de cuidadoras de idosos

Data: 25 de novembro

A Fundacentro participou de um estudo internacional sobre o trabalho de cuidadoras de idosos de instituições de longa permanência no Brasil, França e Japão. Foram entrevistadas 86 trabalhadoras brasileiras, 85 japonesas e 95 francesas. A pesquisa foi coordenada por Helena Hirata, pesquisadora do Centro de Pesquisas Sociológicas e Políticas de Paris – CRESPPA- GTM (Equipe Gênero, Trabalho, Mobilidades) e contou com a participação da pesquisadora da Fundacentro, Myrian Matsuo.

A questão de gênero foi um dos aspectos que mais chamou atenção na pesquisa. Foram entrevistados 50 homens e 216 mulheres. “No Brasil, encontramos mulheres, muitas negras ou pardas, com pouca escolaridade, baixos salários, baixa qualificação e em condições de trabalho precárias. Elas vivenciam o trabalho de cuidado desde a infância. Aprenderam ainda pequenas a cuidar da família ou de outras crianças em troca de comida”, explica Myrian.

Muitas cuidadoras têm ensino fundamental incompleto e filhos com 14 anos ou menos. Elas buscam o trabalho de cuidado para sustentar a família. No entanto, esse perfil da cuidadora brasileira está mudando. Jovens em busca do primeiro emprego, auxiliares e técnicas de enfermagem trabalham como cuidadoras antes de conseguir um emprego em hospital.

No Japão, há muitos jovens e 50% são homens. Eles ficaram desempregados devido à crise econômica. Diante disso, o governo realizou cursos para que homens que saíram das fábricas trabalhassem como cuidadores. Já na França, o trabalho de cuidado conta com pessoas com maior nível de escolaridade, mas a maior parte das cuidadoras é formada por imigrantes do norte da áfrica, que não têm o diploma validado no país.

“Nos três países, o trabalho de cuidado é pouco valorizado pela sociedade, apesar do envelhecimento da população”, avalia a pesquisadora Myrian Matsuo. No caso brasileiro, o número de idosos é crescente, mas não há infraestrutura para atendê-los.

Além disso, a pesquisadora explica que normalmente o cuidado não é visto como profissão, mas sim como obrigação social e cultural das mulheres. Não se leva em consideração que o care é um trabalho. Por outro lado, a divisão sexual do trabalho na sociedade coloca o trabalho doméstico a cargo das mulheres, e o trabalho com reconhecimento social aos homens.

Intensificação do trabalho

A atividade das cuidadoras é marcada pelo trabalho pesado, esforço físico, ritmo intenso, alta rotatividade e ausência de pausas. As que continuam na instituição precisam intensificar o trabalho, não têm com quem dividir as tarefas e ainda sofrem com o prolongamento da jornada em casa, em que precisam cuidar dos afazeres domésticos e da família.

Uma das reclamações das cuidadoras, entrevistadas por Myrian Matsuo, é a falta de tempo para cuidar de si. Problemas de saúde como lombalgia, dores nos braços, tendinite, dores nas pernas, varizes, hipertensão são comuns entre as trabalhadoras dos três países. O desgaste físico e mental, a depressão e o estresse também foram percebidos durante a pesquisa.

A angústia da morte e a possibilidade da perda afeta os cuidadores. Há ainda relatos de violência física e agressões verbais. “O trabalho da cuidadora tem um componente emocional grande, mas o care precisa ser visto como trabalho e não como dom e vocação. Elas falam do trabalho que têm, de não serem valorizadas e não receberem um salário digno. Há sobrecarga física e emocional. A importância do trabalho de cuidado deve ser reconhecida socialmente”, afirma a pesquisadora da Fundacentro.

Se por um lado o care é marcado pelo sofrimento, por outro, esse trabalho também é fonte de prazer. A familiaridade com os idosos, a convivência diária durante longo tempo, a criação de vínculo afetivo entre os idosos e cuidadoras são aspectos positivos apontados durante as entrevistas. O prazer também vem quando o idoso demonstra se sentir bem e na aprendizagem gerada nessa relação.

Há um projeto no Brasil para a regulamentação da profissão, que está na Câmara dos Deputados e ainda não foi aprovado. Faltam ao país políticas públicas de assistência ao idoso e também para as cuidadoras.

Divulgação

A pesquisa está na fase de apresentação de dados em congressos nacionais e internacionais, além da elaboração de um relatório e artigos científicos. “O estudo dá subsídios para a formulação de políticas públicas. Esses dados mostram os problemas enfrentados pelas cuidadoras e a necessidade de melhores condições de trabalho”, defende Myrian Matsuo.

Na França e no Japão, há regulamentação, carreira e a obrigatoriedade de cursos; no Brasil, não. No caso das cuidadoras domésticas, a situação é ainda mais dramática e permeada pela informalidade.

A pesquisadora Myrian Matsuo apresentará os resultados da pesquisa na conferência: “Trabalho, Prazer e Sofrimento das Trabalhadoras do Care (Cuidado)” no Seminário: Saúde Mental e Trabalho. O evento será realizado em 26 de novembro, na Fundacentro, em São Paulo. As inscrições e a programação podem ser acessadas no site da instituição, na área Próximos Eventos.

O estudo já foi apresentado em dois eventos internacionais e um nacional. Myrian Matsuo participou da mesa de abertura “Care e relações sociais” no Colóquio Internacional “Teorias e práticas do care: comparações internacionais”, realizado em Paris. O evento foi organizado pelo CRESPPA, pela rede de pesquisa internacional e pluridisciplinar “Mercado de trabalho e gênero” – Mage e pelo grupo Agir pelo Care, grupo Humanis no mês de junho.

Já em julho, Myrian apresentou o tema “Trabalho, Saúde e Gênero: um estudo com cuidadoras de idosos em instituições de longa permanência, em São Paulo, Brasil” durante o VII Congresso Latino-Americano de Estudos do Trabalho – O Trabalho no Século XXI – Mudanças, impactos e perspectiva. O evento foi realizado na Universidade de São Paulo – USP.

Os dados dessa pesquisa também foram apresentados no II Congresso Brasileiro de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho – CBPCT em Gramado/RS, no final de outubro. O nome da apresentação foi Prazer e sofrimento no trabalho das profissionais do “care”(cuidado): as cuidadoras de idosos, em instituições de longa permanência, em São Paulo.

Fonte: Fundacentro

Por |2013-11-28T15:47:15-02:0028 de novembro de 2013|Notícias|