Como sempre faz todo dia 28 de fevereiro – Dia Mundial do Combate às Lesões por Esforços Repetitivos e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT) -, o Sindicato realizou atividade para marcar a data. Neste ano, a entidade fez uma oficina sobre prevenção, tratamento e direitos previdenciários. Por quase quatro horas, dirigentes sindicais, especialistas e trabalhadores debateram o assunto na sede do Sindicato. Entre sugestões, questionamentos e orientações, a conclusão da iniciativa é de que a prevenção é a melhor arma para combater as enfermidades ocupacionais.
Aberta ao público, a oficina contou com a participação de Mário César Ferreira, psicólogo do Trabalho, professor da Universidade de Brasília (UnB) e pós-doutorado em Ergonomia pela Université Paris 1 Sorbonne (França), de George Nicolas Kouzak, clínico geral, médico do Trabalho e especialista pelo Colégio Médico de Acupuntura (CMA), e de Janaína Barcelos da Silva, advogada especialista em direitos trabalhistas e previdenciários do escritório Castagna Maia, que presta assessoria jurídica ao Sindicato na área de saúde.
“Apesar de as LER/DORT serem bastante conhecidas, os trabalhadores ainda têm muitas dúvidas sobre a temática. Por isso, sempre realizamos uma atividade para marcar o Dia Mundial de Combate às LER/DORT e municiar o trabalhador com informação”,afirmou a diretora da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Centro Norte (Fetec-CN/CUT) Conceição Maria Costa. “Preocupado com o bem-estar da categoria, o Sindicato sempre reserva um dia para debater a saúde do trabalhador e informar suas ações relacionadas ao tema.
Diante das metas inatingíveis impostas pelas instituições financeiras, os bancários e os trabalhadores do ramo financeiro estão adoecendo e se afastando de suas funções com uma frequência assustadora que preocupa o Sindicato”,observou o diretor do Sindicato Eduardo Araújo, funcionário do Banco do Brasil e representante dos trabalhadores de Brasília no Comando Nacional dos Bancários. Trabalho bancário invade o subconsciente Em sua fala, o psicólogo do Trabalho Mário César Ferreira, que já trabalhou no Sindicato, fez uma breve análise da evolução do trabalho bancário. “Com a automação do serviço e a drástica redução de pessoal, aumentou a pressão pelas metas”,disse. “A matéria-prima do trabalho bancário é vazia, uma vez que não é materializada em algo concreto”,frisou o professor da UnB, citando que o caixa, por exemplo, é o profissional do zero. “Ele começa com zero e termina com zero.
Se tiver diferença no caixa, tem que pagar do próprio bolso. E se erra com frequência, paga com o emprego”,acrescentou. Ainda de acordo com o especialista, o trabalho bancário é tão desgastante que invade o subconsciente. O professor lembrou o caso de um trabalhador que não conseguiu fechar seu caixa e foi para casa pensando no assunto.
“Em sua residência, ele tentava lembrar onde ocorreu o erro. Sem sucesso, foi dormir com o problema. Durante um sonho, conseguiu detectar a falha. Ao acordar, checou a informação com um cliente, que confirmou o erro”,contou. Chefe assediador deve passar por capacitação Para Mário Cesar, a chefia que é promotora de assédio moral deveria passar por uma capacitação e repensar seu papel.
“Quando a gente não tem um modelo que respeite o sentido do trabalho, a natureza da atividade e o papel das organizações, os indivíduos tendem a reproduzir modelos autoritários”,salientou o expertise. Profundo conhecedor da temática, o professor da UnB destacou que essa obsessão pelo atingimento das metas e pelo trabalho pode ser um sinal da síndrome de Burnout, quando os trabalhadores ultrapassam os limites de sua capacidade. Em alguns casos, de acordo com o especialista, a síndrome pode ocasionar o surgimento das LER.
Textos sobre a síndrome de Burnout descrevem o mal como a dedicação exagerada à atividade profissional. Segundo relatos, o desejo de ser o melhor e sempre demonstrar alto grau de desempenho é outra fase importante da síndrome: o portador de Burnout mede a auto-estima pela capacidade de realização e sucesso profissional. O que tem início com satisfação e prazer, termina quando esse desempenho não é reconhecido. Nesse estágio, necessidade de se afirmar, o desejo de realização profissional se transforma em obstinação e compulsão.
Confira, abaixo, os 12 estágios da síndrome:
1) Necessidade de se afirmar;
2) Dedicação intensificada – com predominância da necessidade de fazer tudo sozinho;
3) Descaso com as necessidades pessoais – comer, dormir, sair com os amigos, começam a perder o sentido;
4) Recalque de conflitos – o portador percebe que algo não vai bem, mas não enfrenta o problema. é quando ocorrem as manifestações físicas;
5) Reinterpretação dos valores – isolamento, fuga dos conflitos. O que antes tinha valor sofre desvalorização: lazer, casa, amigos, e a única medida da auto-estima é o trabalho;
6) Negação de problemas – nessa fase os outros são completamente desvalorizados e tidos como incapazes. Os contatos sociais são repelidos, cinismo e agressão são os sinais mais evidentes;
7) Recolhimento;
8) Mudanças evidentes de comportamento;
9) Despersonalização;
10) Vazio interior;
11) Depressão – marcas de indiferença, desesperança, exaustão. A vida perde o sentido;
12) E, finalmente, a síndrome do esgotamento profissional propriamente dita, que corresponde ao colapso físico e mental. Esse estágio é considerado de emergência e a ajuda médica e psicológica, uma urgência.
Mobiliário
Segundo Mário César, o mobiliário inteligente é o melhor. “é aquele que é flexível, que se adapta com o alto e o baixo e que tem uma adaptabilidade ao perfil antropométrico do seu usuário”,descreveu o docente. Em sua participação na oficina, o professor da UnB também frisou: “trabalho que não tem variabilidade postural moderada é candidato a ser condutor de adoecimento. Porque o corpo, tal qual o cérebro, precisa estar em movimento. Corpo parado atrofia. Corpo numa mesma posição tende a exigir muito de uma determinada musculatura. E isso potencializa o adoecimento. Do mesmo modo o intelecto. Trabalho em que a gente não cria emburrece. E o trabalho que emburrece vai na contramão da própria natureza do trabalho”.
Principais fatores determinantes das LER
Médico do Trabalho e especialista pelo Colégio Médico de Acupuntura (CMA), George Nicolas Kouzak destacou os principais fatores determinantes das LER, por ordem de importância: postura, movimentos repetitivos, esforço, conteúdo do trabalho e fatores psicológicos e características individuais.
“A LER é resultado de fatores psicossociais, estresse psicológico, estresse físico e fatores ergonômicos”,destacou George Nicolas Kouzak. De forma didática, o médico revelou as características individuais dos trabalhadores vítimas das LER: • Por definição, só é portador de LER quem realmente trabalhou;
• A obsessão por trabalho faz parte do quadro da personalidade do portador de LER (workaholic); • O perfeccionismo acompanha de perto esses indivíduos;
• Sabe-se que os traços de personalidade são difíceis de serem mudados. Em seguida, o médico descreveu os graus da LER:
• Grau I: – Sensação de peso e desconforto no membro afetado; – Dor espontânea no local, com pontadas ocasionais durante a jornada de trabalho, que não interfere na produtividade.
• Grau II: – Dor mais persistente e mais intensa; – A dor aparece durante a jornada de trabalho de forma intermitente; – A dor é tolerável e permite o desempenho da atividade, mas afeta o rendimento nos períodos de exacerbação; – A dor pode vir acompanhada de formigamento e calor, além de leves distúrbios de sensibilidade.
• Grau III: – A dor aparece com mais persistência, mesmo fora da jornada de trabalho; – Perde-se um pouco da força muscular; – Há sensível queda na produtividade, quando não, impossibilidade de executar a função; – As tarefas domésticas são limitadas ao mínimo e muitas vezes não podem ser executadas.
• Grau IV: – Dor forte, contínua, às vezes insuportável, levando a intenso sofrimento; – A dor acentua-se com os movimentos, estendendo-se a todo o membro afetado; – Há perda de força e descontrole dos movimentos; – Podem aparecer atrofias e deformidades; – A capacidade de trabalho é anulada.