Data: 30 de julho
As doenças de coluna correspondem a cerca de 30 casos de aposentadorias para cada grupo de 100 mil beneficiários da Previdência Social, além de estar entre as principais causas de licenças médicas. A maioria dos afetados são homens, principalmente de idade mais avançada. A forma de levantar um peso e a massa do trabalhador com relação à do objeto devem ser observadas para se evitar danos à coluna.
Projeto de Lei em tramitação na Câmara, quer reduzir, de 60 para 30 kg, a carga máxima que um trabalhador pode carregar individualmente | Foto: Reprodução Internet
Enquanto alguns ortopedistas recomendam que uma pessoa deve levantar no máximo o equivalente a 50% do seu peso, outros preferem uma recomendação menos genérica, que individualize a capacidade do ser humano para carregar determinado peso, de acordo com as suas condições físicas e da saúde em geral. Há ponderação, nessas recomendações, no que se refere às mulheres, pois normalmente são tidas como menos fisiologicamente formadas para tarefas pesadas.
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelece que o trabalhador pode carregar até 60 quilogramas (kg), mas no âmbito internacional a Niosh (National Institute for Ocupational Safety and Health), órgão internacional que fixa normas para a questão, determina o limite de 25 kg no exercício das tarefas laborais. Esse é o critério seguido nos países europeus.
Projeto de Lei (PL 5.746/05) que foi aprovado no Senado e encaminhado para a Câmara dos Deputados reduz de 60 kg para 30 kg a carga máxima que um trabalhador pode carregar individualmente, alterando o Artigo 198 da CLT que trata desse limite. Os 60 kg fixados na legislação brasileira foram adotados há mais de um século.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) não fixam patamares para os equipamentos em função da força física do trabalhador. A explicação das assessorias de imprensa dos dois órgãos é de que as comissões internas de prevenção a acidentes de trabalho das empresas “cuidam dessas questões de interesse dos empregados”.
A Norma Técnica 17, do Ministério do Trabalho e Emprego, que trata de ergonomia, estabelece que todos os equipamentos colocados à disposição do trabalhador devem estar adequados às características psicofisiológicas destes e à natureza do trabalho a ser executado. O uso de equipamento mecânico de ação manual para levantamento de material “deve ser executado de forma que o esforço físico seja compatível com a capacidade de força e não comprometa a saúde ou a segurança” de quem o executa.
O presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), Carlos Campos, que é médico e ergonomista, opina que “há um conjunto de condições que precisam ser observadas” para se avaliar o peso que uma pessoa deve carregar “sem prejudicar a saúde”.
Isso inclui, conforme explica o médico, uma série de situações ligadas às condições da pessoa e ao tipo da carga: o tempo que vai ser empregado para o seu deslocamento; o esforço que vai ser feito para retirá-la de onde está colocada, e a forma com que ela vai ser conduzida pelas mãos, além da observância de detalhes sobre a manipulação com o auxílio de equipamentos.
Além disso, diz Carlos Campos, “tudo vai depender de onde está o peso, se está no solo, a que distância do corpo de quem vai carregar, quanto se vai ter que encurvar a coluna para pegá-lo”. Segundo ele, “quanto mais perto do corpo o peso estiver, tanto melhor será para o conforto de quem vai transportá-lo”. Para o especialista, é preciso levar em conta também quanto tempo levará a tarefa e com que frequência será executada ao longo do dia.
O pedreiro Natalino Souza, de 50 anos, diz que “quem mexe com construção tem que ser ‘pau pra toda obra'”. Ele recomenda que se deve ter “técnica para cuidar de peso”. Segundo explica, “se um saco de cimento [que tem 50 kg] é pesado para uma pessoa, ela deve cortá-lo no meio com a enxada e assim pegar 25 quilos de cada vez”.
Natalino recomenda também que o trabalhador sempre se agache para pegar um objeto pesado. No caso da caixa de cerâmica, peso também comum às suas atividades, “da mesma forma que o cimento, o melhor é que ela não esteja no chão, para não precisar encurvar o corpo na hora de transportar”.
Antônio Geraldo Barbosa, de 53 anos, que transporta mudanças, diz que não enfrenta problema de coluna – “crônico, pelo menos” – mas que tem duas hérnias inguinais. “Enquanto puder, vou continuar trabalhando. Escolho ajudantes mais pela habilidade do que pela idade, e que tenham a mesma força minha. O cuidado deve ser na forma de carregar [o peso], porque, para subir ou descer uma escada, por exemplo, não se pode deixar o móvel escorregar ou cair, para não estragá-lo”.
Para Deocleciano Siqueira da Silva, 47 anos, que trabalha com madeira há 12 anos, “quando o peso é muito grande, o melhor é utilizar a ajuda de algum equipamento mecânico”. Ele mostrou peças de madeira em um armazém no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA) que, segundo calcula, “devem pesar em torno de 250 quilos” e que só podem ser transportadas por três pessoas. Ele disse que conhece muita gente que já mudou de profissão “para não ter que pegar nada pesado”.
O trabalhador Francisco de Assis (45 anos) transporta mercadorias na Central de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa) e diz que em geral são embalagens que pesam em torno de 20 quilos. Devido ao peso, diz que “não há nenhum problema” em colocá-las no caminhão. O aposentado Clarindo Florêncio Santos, 67 anos, faz trabalho autônomo no local e diz que evita levantar botijão de gás ou garrafão de água. “Não sinto dor porque me previno e aqui uso carrinho para levar embalagens do caminhão até os boxes da Ceasa”.
Fonte: Agência Brasil