Fundacentro disponibiliza diretrizes para diagnóstico de mesotelioma

Uma construção coletiva. Esta frase resume o processo de elaboração das “Diretrizes Brasileiras para Diagnóstico do Mesotelioma Maligno de Pleura”. A publicação, que contou com o trabalho de 33 especialistas de 15 instituições, está disponível na biblioteca on-line da Fundacentro. No lançamento, em 13 de abril, parte destes profissionais mostrou como diagnosticar este tumor com alta fração atribuível à exposição ao asbesto. Você pode assistir ao vídeo no canal youtube.com/fundacentrooficial.

O mesotelioma maligno apresenta longo período de latência em relação ao início da exposição e sobrevida de 12 meses ao redor de 10%. “A prevenção é possível desde que se controle o uso e consumo do amianto numa sociedade. Há correlação grande entre consumo acumulado de asbestos e mortalidade em diversos países”, explica o pesquisador da Fundacentro, Eduardo Algranti. Ele foi um dos coordenadores da elaboração das Diretrizes ao lado de Ubirani Otero, tecnologista do Inca (Instituto Nacional de Câncer).

Segundo o médico pneumologista, entre 20 e 25% dos óbitos por mesotelioma não têm registro adequado em termos mundiais. De 1994 a 2008, houve 955 óbitos registrados por esse tumor no Brasil. A estimativa é que tenham ocorrido 1400 casos no período. Em outro estudo, foram levantados 929 óbitos causados por mesotelioma entre 2000 e 2012. A partir da análise desses dados e da aplicação de um modelo estatístico, chegou-se a estimativa de 1911 mortes por mesotelioma entre 2013 e 2030, com pico de ocorrência previsto para o período de 2021 a 2026.

“O sub-registro estimado pelo Projeto Asbesto, de acordo com as informações disponíveis, é similar ao reportado em análises globais”, explica Algranti. “Há risco de mesotelioma por exposições ambientais. É importante que as áreas contaminadas sejam mapeadas, e os serviços de vigilância em saúde utilizem essas informações”, completa o médico.

Os dados brasileiros demonstram excesso de casos em áreas de alto consumo de amianto. Nesse contexto, o reconhecimento do mesotelioma deve ser melhorado com a implementação das Diretrizes de Diagnóstico. “A correta identificação tem implicações no manejo oncológico e na orientação de possíveis questões legais”, afirma Algranti.

Diretrizes

O documento foi criado a partir de uma demanda do Ministério Público do Trabalho – MPT para o Inca em 2015. Desde então, uma equipe de especialistas passou a desenvolver o trabalho, com a adoção da metodologia da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde) de diretrizes baseadas em evidências.

Na Fundacentro, foram realizados oficina em 2016, dois treinamentos em 2017 e um seminário em 2018. Em 2019, ocorreu uma oficina no Inca e, em 2020, a apresentação na Plenária da Conitec e a realização de consulta pública, seguida de reunião para avaliação de contribuições e publicação das Recomendações no Diário Oficial da União. Atualmente se trabalha para difundir e implementar das Diretrizes. “A gente espera que este documento sirva de base para o diagnóstico. A próxima etapa é avaliarmos a implementação”, explica Ubirani Otero.

Diagnóstico

Para fazer o diagnóstico, é preciso considerar a história clínica e ocupacional, além de realizar exames. Segundo o médico pneumologista Jefferson Freitas, do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador da Freguesia do Ó (São Paulo/SP) e Incor/USP (Instituto do Coração/Universidade de São Paulo), há sintomas inespecíficos e comuns a doenças pleurais como dispneia, dor torácica, tosse, perda de peso, astenia (perda ou diminuição da força física), fadiga e, eventualmente, abaulamento (curvatura) do tórax.

A suspeita deve ocorrer em pessoas que apresentam sinais de derrame pleural ou opacidades boceladas na projeção pleural em radiografia do tórax (RXT). “A presença de derrame pleural associado a um dos sintomas descritos anteriormente, na ausência de alteração intrapulmonar ou sinais de infecção, pode ser um achado muitas vezes presente no início de um quadro de MMP (mesotelioma maligno de pleura)”, aponta Freitas.

O médico pneumologista ainda destaca a importância de outros exames para o diagnóstico como a tomografia computadorizada de tórax, que é mais acurada que o RXT em pacientes com suspeita de neoplasia pleural maligna.

Outros aspectos devem ser considerados em relação à patologia. São técnicas como citologia do líquido pleural, biópsia de pleura por via transtorácica ou transparietal com agulha fina e exame histológico de tecido coletado, imunohistoquímica, entre outras.

“Chega a 99,8% a probabilidade de MMP em pacientes com doença pleural maligna identificada por técnicas convencionais de patologia, associado a uma história de exposição ao asbesto e alterações clínico-radiológicas suspeita quando 2 marcadores para tecido mesotelial são positivos e 2 marcadores para adenocarcinoma são negativos”, destaca o médico em sua apresentação.

Saiba mais

Mais detalhes sobre diagnósticos podem ser vistos no vídeo de lançamento, que inclui apresentações de outros especialistas, ou no texto das Diretrizes.

(Fonte: Fundacentro)

Por |2021-05-07T11:32:34-03:007 de maio de 2021|Saúde no trabalho|