O afastamento de longa duração por doença e a reinserção produtiva do trabalhador é um tema recorrente no cotidiano do Médico do Trabalho e que foi tema de um seminário nesta sexta-feira (17), no 17º Congresso Nacional da ANAMT, que é realizado em Brasília (DF). A atividade foi iniciada por Mônica Angelim, mestra em Saúde Coletiva pela Universidade Federal da Bahia e professora na mesma instituição e líder do grupo de pesquisa “Atenção integral à saúde: saúde, trabalho e funcionalidade”.
Ela apresentou um cenário complexo para o trabalhador brasileiro e classificou a situação atual como um problema de saúde pública, associando a instabilidade econômica e baixa empregabilidade à rápida transição demográfica que o país vive, além de um quadro de adoecimento crônico.
“Não estamos aqui para debater se esse cenário existe ou não. Esse quadro já é real no Brasil e em vários países do mundo. Estamos aqui debatendo formas de reverter esse quadro para o trabalhador que retorna ao trabalho após o afastamento”, afirmou Mônica. “Enquanto os países com políticas públicas mais desenvolvidas, como Finlândia, Dinamarca e Holanda, trabalham com políticas de integração, que facilitam a reentrada do trabalhador. Outros exemplos, como Brasil, Portugal, Polônia e México, focam em um sistema compensatório”.
Esse sistema compensatório, para trabalhadores afastados em longo prazo, gera um penoso processo de renovação do benefício. Primeiramente, o trabalhador vê a desconstrução do seu mundo a partir da ausência do trabalho. Depois disso, ele se vê obrigado a passar por uma penosa jornada de produzir papéis para manter seu benefício, segundo a especialista.
“O trabalhador afastado não deseja permanecer incapacitado, mas ao mesmo tempo ele não quer retornar à atividade pela qual ela sofreu esse afastamento. Aquela atividade pode ter causado um trauma ou a incapacidade pode reduzir a sua empregabilidade naquele segmento. Cria-se uma dependência do benefício sem que sejam apresentadas formas de retorno ao mercado”, ressalta.
O retorno ao mercado, quando feito de forma irresponsável, também pode trazer consequências ruins ao trabalhador afastado. Mônica ressaltou que, além da barreira ao retorno imposta pelo próprio mercado, também há uma resistência dos gestores a receber esse trabalhador em recuperação. “Ele é tratado como uma sucata, como estorvo”.
Como realizar um retorno eficaz
Em seguida, o seminário abordou a gestão do retorno eficaz ao trabalho, em apresentação feita por João Silvestre, médico especialista em Medicina do Trabalho, diretor de Relações Internacionais da ANAMT, editor da RBMT e professor do Centro Universitário São Camilo. Ele discorreu sobre os tipos de incapacidade laborativa e de benefícios disponíveis para os trabalhadores no Brasil antes de analisar os números da Previdência.