Data: 24 de março
Tão difícil quanto o afastamento do ambiente escolar é o retorno. A professora de Geografia Rosi Tomura, de 49 anos, está há mais de 10 no status de “readaptada”, nome atribuído ao docente que já voltou do período de licença, mas ainda não consegue dar aulas.
Ela teve depressão depois de ver um de seus alunos morrer esfaqueado por um colega na frente da escola, em Mococa, interior do Estado. “Trabalho em um bairro muito periférico, violento, onde há muitos problemas com drogas”, disse.
Após o episódio, que aconteceu em 1999, foi perdendo a vontade de ser professora, até o momento em que nem sequer conseguia sair da cama. “Você começa a se deparar com problemas que são muito maiores do que você e se sente impotente. Vai adoecendo com todo esse cenário. Fui diagnosticada com depressão e fobia social”, disse.
Afastou-se e só conseguiu voltar à escola em 2003, como readaptada, onde permanece até hoje. Foi aí que a professora começou a reunir outros docentes com o mesmo problema e criou a Associação dos Professores Readaptados do Estado de São Paulo (Aspresp), que reúne cerca de 1 mil docentes com o mesmo problema. O grupo troca relatos virtuais e promove encontros para discutir os principais problemas da categoria, desabafar e até pedir auxílio jurídico.
Entre os relatos está o da professora de Filosofia Maria de Lourdes, de 64 anos. Depois de enfrentar um quadro de síndrome do pânico, ela precisou voltar à rede como readaptada, em uma sala de leitura de uma unidade na zona leste, onde cumprirá os últimos anos de trabalho para garantir a aposentadoria.
Afastou-se do colégio pela primeira vez em 2008, quando teve câncer de mama. Em 2012 tentou retomar as aulas, mas logo percebeu que não conseguiria mais suportar o ritmo de trabalho. “Não conseguia entrar na sala. Tinha muita angústia, estresse. Até conversa entre alunos me irritava.”