Nota de falecimento – Profa. Dra. Lys Esther Rocha

Nota de falecimento – Profa. Dra. Lys Esther Rocha

A ANAMT comunica e lamenta o falecimento da Profa. Dra. Lys Esther Rocha no último sábado (12), aos 59 anos. No texto abaixo, a diretora de Divulgação da ANAMT, Dra. Marcia Bandini, homenageia, em nome da diretoria da ANAMT, a especialista, que foi diretora de Título da Associação:

A Profa. Dra. Lys Esther Rocha nasceu filha de professora sem imaginar que, na década de 80, um representante sindical associaria suas iniciais (L.E.R.) às lesões por esforços repetitivos durante a luta pelo reconhecimento das doenças que acometeram milhares de trabalhadores de processamento de dados e da qual a professora participou ativamente.

Desde menina, Lys esteve envolvida com o ensino e a saúde dos trabalhadores. Antes mesmo de completar 18 anos, já dava aulas no MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização) e lembrava com orgulho que “a pessoa aprendia a ler a partir da sua rotina de trabalho, com “T” de tijolo, por exemplo”. Durante a graduação na Faculdade de Medicina do ABC, esteve próxima do movimento sindical que renascia no final do regime militar e defendia a melhoria dos ambientes de trabalho.

Fez sua residência em medicina social e medicina do trabalho na Universidade Federal da Bahia, quando atuou no Pólo de Camaçari. De volta a São Paulo, integrou o grupo de trabalho que estudava as condições de trabalho das indústrias de Cubatão e os efeitos da exposição ao benzeno sobre a saúde dos trabalhadores. Foi médica sanitarista do Instituto da Saúde e mais tarde, em 1984, iniciou suas atividades como Auditora Fiscal do Trabalho, com destaque nas discussões sobre as condições de trabalho dos processadores de dados e dos operadores de tele-atendimento.

Estudou na Itália, país que admirava. Fez mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo, onde se tornou docente do Departamento de Medicina Legal, ética Médica, Medicina Social e do Trabalho. Teve participação fundamental na elaboração da Norma Regulamentadora no. 17 e na introdução dos fatores psicossociais e organizacionais nas análises ergonômicas do trabalho. Estudou e publicou sobre ergonomia, LER/DORT, saúde mental, assédio moral e sobre a questão de gênero e trabalho.

Em vida, foram quase 50 artigos, mais de 120 trabalhos em congressos, oito livros, dentre os quais os clássicos “Isso é trabalho de gente? Vida, doença e trabalho no Brasil” (Petrópolis: Ed. Vozes, 1994) e “De que adoecem e morrem os trabalhadores?” (São Paulo: IMESP/DIESAT, 1984). Orientou dezenas de teses de mestrado e doutorado, formou centenas de alunos em cursos de pós-graduação e iniciou a residência em medicina do trabalho na Universidade de São Paulo. Teve ativa participação associativa na ANAMT (Associação Nacional de Medicina do Trabalho), onde foi diretora de Título, na ABRASCO (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e na ABERGO (Associação Brasileira de Ergonomia).

Por 14 anos, Lys lutou contra um tipo raro de câncer com a mesma leveza e determinação com que construiu sua carreira. Não deixava se abater. Enquanto pode, cantou em coral como contralto e teve aulas de música, praticava danças de salão e, vez por outra, ainda se arriscava no piano. O amor pela família, especialmente pelas filhas, era o que fazia os olhos brilharem. Foi generosa com o próprio conhecimento, compartilhando o que sabia com quem podia.

O último projeto, ainda em curso, era dedicado a resgatar a história de mulheres pioneiras na saúde do trabalhador. “Frequentemente somos esquecidas. é preciso escrever para que as histórias de vida e de trabalho fiquem para as próximas gerações”.

A Profa. Lys Esther Rocha era única em sua combinação de sensibilidade e força. Fará muita falta na medicina do trabalho e na saúde do trabalhador. Só não deixará mais saudades porque deixou tantos seguidores e seguidoras que é como se vivesse um pouco em cada um deles.

A Profa. Dra. Lys Esther Rocha

Por |2015-12-14T15:45:52-02:0014 de dezembro de 2015|Notícias|