Data: 2 de outubro
No dia 4 de outubro, comemora-se no Brasil o Dia do Médico do Trabalho, especialidade médica que luta pelo direito de o trabalhador exercer suas atividades em um ambiente de trabalho seguro e saudável, digno e decente. Essa foi iniciada pelo médico italiano Bernardino Ramazzini ainda no século XVII. Ele escreveu o livro “As Doenças dos Trabalhadores” – até hoje cultuado pelos profissionais de SST – e seu interesse pelo tema se deu ao observar um operário que limpava a fossa de sua casa. Ao examiná-lo, constatou uma avançada inflamação nos olhos e descobriu que a enfermidade afetava muitos trabalhadores que exerciam aquela atividade.
Quatro séculos depois, a luta continua e sensibiliza não só os profissionais já atuantes, como também muitos estudantes de Medicina, como Walquiria D’Avanzo e Leandro Lessa, residentes de Medicina do Trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A grande motivação de Leandro é ter um impacto positivo na sociedade.
“A importância da especialidade é cada vez mais reconhecida, pois influencia positivamente não só a saúde do trabalhador, como a de toda sua família e de seu entorno. O cuidado preventivo e a gestão de saúde me interessaram muito desde a graduação”, conta o estudante.
Já Walquiria percebeu, ainda durante a graduação, o potencial da Medicina do Trabalho em proporcionar amplos conhecimentos em diversas áreas: “A especialidade exige que os conhecimentos extrapolem a Medicina, dependendo do ramo de atividades no qual o profissional atua”.
No entanto, a assessora da presidência da ANAMT para Formação dos Médicos do Trabalho, Dra. Elizabeth Dias, pontua que o tema “não parece explícito nas Diretrizes Curriculares do Curso Médico e poucas escolas médicas no país tem uma disciplina específica com este enfoque e uma carga obrigatória. Com o crescimento do número de cursos médicos a situação tende a se agravar. Mas também é uma oportunidade para a ANAMT contribuir para o aperfeiçoamento deste processo”.
O presidente da ANAMT, Dr. Zuher Handar, reitera a capilaridade da atuação do Médico do Trabalho: “é uma das especialidades médicas que mais atua de maneira transversal em relação às demais. As competências, habilidade e atitudes dos médicos têm sido aperfeiçoadas nos últimos tempos, considerando justamente este novo momento de transformação do trabalho e do seu modo de ser feito. Atualmente é necessário entender todas essas transformações e identificar as necessárias atuações competentes e éticas dos especialistas em Medicina do Trabalho”.
Busca crescente
Recentemente, a Medicina do Trabalho foi apontada como a 6ª; área mais recorrente entre os médicos especialistas. A “Pesquisa Demografia Médica no Brasil”, realizada em 2013 pelo CFM, contabilizou 12.756 Médicos do Trabalho, número superior a especialidades como Dermatologia e Cardiologia. Segundo Dr. Zuher, o mercado vai precisar cada vez mais deste profissional. No ano passado, a Portaria MTE nº 590 determinou que os profissionais integrantes do SESMT devem possuir formação e registro profissional em conformidade com o disposto na regulamentação da profissão.
“A Medicina do Trabalho continua sendo uma das mais promissoras especialidades médicas. O mercado tem exigido um profissional cada vez mais qualificado e melhor preparado para atuar na promoção e na proteção da saúde do trabalhador. A necessidade de uma maior atuação preventiva contra as doenças e os acidentes de trabalho, com um olhar mais abrangente da saúde buscando uma integralidade da atuação interdisciplinar e intersetorial, é o grande desafio”, afirma Dr. Zuher.
Nesse contexto, Dra. Elizabeth Dias ressalta outros aspectos que influenciam o desenvolvimento da especialidade no Brasil e a complexidade deste quadro, como o aumento do número de médicos formados no país, porém, sem o acompanhamento adequado das mudanças na área.
“Os processos formadores não tem conseguido, de maneira geral, acompanhar adequadamente as dramáticas transformações no mundo do trabalho, nas atividades produtivas e no perfil dos trabalhadores que se refletem em novas exigências para os profissionais”, observa.
Dr. Jorge da Rocha Gomes, ex-presidente da ANAMT, ressalta algumas mudanças positivas na atuação dos especialistas, como o aumento da participação feminina. Para ele, o crescimento do interesse na área é uma evidência da conscientização de sua importância.
“As pessoas estão entendendo que esta é uma área muito importante da Medicina. Ficamos no trabalho durante um terço de nossas vidas, é importante que haja muito cuidado para o ambiente de trabalho não se tornar uma fonte de doenças e acidentes”, resume.