Competências Requeridas para os Promotores de Saúde

Competências Requeridas para os Promotores de Saúde

Competências Requeridas para os Promotores de Saúde

Marcia Bandini

Especialista em Medicina do Trabalho, Doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Professora Convidada de Cursos de Pós-Graduação da USP, Diretora da Associação Nacional de Medicina do Trabalho – ANAMT, Gestora de Saúde em Empresas Multinacionais há 15 anos.

Ana Claudia Camargo Germani

Professora Doutora do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Esta série de artigos, idealizada para discutir a promoção da saúde no ambiente de trabalho, inclui as principais etapas de implantação e gestão dessa atividade. Para fins didáticos, a série foi dividida em: (1) Por que promover saúde no trabalho? (publicado na edição de janeiro/2015); (2) Competências dos promotores de saúde; (3) Como promover saúde no trabalho – estratégias de sucesso; (4) Como avaliar programas de promoção da saúde no trabalho; e (5) Erros mais comuns das práticas de promoção da saúde no trabalho.

O primeiro artigo destaca os motivos para promover saúde no trabalho, dito de outra forma, define as ações de promoção da saúde que, integradas às ações de prevenção e assistência, assegurem a atenção integral ao trabalhador. Neste capítulo da série, busca-se evidenciar que competências, pessoais e da equipe, devem ser desenvolvidas para a inclusão de ações de promoção nas práticas voltadas para a saúde do trabalhador.

Quem são e o que fazem os promotores de saúde?

Inicialmente, cabe reforçar o conceito de promoção da saúde proposto em Ottawa, como um “processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo” . Nessa direção, os promotores de saúde incluem aqueles que trabalham para promover a saúde, independentemente da designação profissional. Isso inclui pessoas, organizações e grupos de diversos setores.

Promotores da saúde devem ser capazes de avaliar a natureza de um problema de saúde, fornecer análise e aconselhamento sobre como lidar com ele por meio da combinação adequada de estratégias de promoção da saúde, o que inclui a mobilização comunitária/coletiva, a educação sanitária, a defesa das propostas, o desenvolvimento de políticas saudáveis e a motivação para a mudança organizacional na busca de ambientes favoráveis para a saúde. O conjunto dessas habilidades constitui o “valor agregado” que os promotores de saúde trazem para o campo da saúde, em especial da saúde pública e da saúde do trabalhador.

Dimensões das competências

Segundo Mendes, competência é um conjunto de saberes: saber fazer, saber ser e saber agir, necessários para o exercício de uma profissão. é a capacidade de o indivíduo desenvolver atividades de maneira autônoma, por meio de planejamento, implementação e avaliação delas; com a utilização dos conhecimentos e das habilidades adquiridas para o exercício de uma situação profissional ou um papel social.

Logo, competência profissional não se reduz a um conhecimento específico. De fato, as competências encontram-se em uma área de intersecção dos conjuntos de habilidades, conhecimentos técnicos e atitudes de um profissional. Por sua vez, esses conjuntos são desenvolvidos dentro de um contexto maior (Figura 1), onde coexistem quatro dimensões, a saber:

• Dimensão técnico-instrumental, que representa o contexto técnico científico da atualidade, disponível para os profissionais;

• Dimensão sociopolítica, que representa as relações das diversas partes interessadas daquela sociedade e seu arcabouço regulatório;

• Dimensão ética, que direciona as ações dos profissionais;

• Dimensão comunicacional, que interliga todas as dimensões.

Como dito no primeiro artigo, a Associação Nacional de Medicina do Trabalho elenca cinco grupos de competências requeridas para o exercício profissional de médicos do trabalho. Neste momento, vale aprofundar as subdimensões previstas em dois desses grupos.

Dentro do rol de competências listadas no grupo denominado – Estudo do Trabalho – há menção clara a proposição, orientação, implementação e avaliação de “programas de intervenção nos ambientes e processos de trabalho destinados a promover saúde dos trabalhadores e prevenir danos (grifo nosso)”.

Segundo Dias, no Grupo II – Atenção integral à saúde dos trabalhadores – estão as competências para desenvolver ações de promoção e proteção da saúde, vigilância, prevenção das doenças, assistência e reabilitação da saúde dos trabalhadores, tanto em nível individual quanto coletivo.

Os demais grupos, apesar de não mencionarem diretamente o termo, abordam competências essenciais a(o) promotor(a) da saúde como: tomada e implementação de decisões, comunicação, trabalho em equipe, negociação de conflitos e formação de consenso, além do desenvolvimento da atitude e da habilidade de aprender continuamente.

Ainda nas considerações iniciais, é oportuno lembrar que a complexidade do processo saúde-doença, resumido no primeiro artigo, impacta também a noção de competências. O debate atual na área da formação dos profissionais da saúde reforça que problemas complexos pedem equipes (e não somente indivíduos) competentes .

Competências Essenciais

Várias iniciativas internacionais têm tentado identificar e organizar as competências essenciais para práticas efetivas de promoção da saúde. De 2009 a 2012, a União Europeia realizou um projeto denominado CompHP . Esse projeto uniu 24 parceiros europeus e usou métodos como a pesquisa Delphi, pesquisas online, grupos focais, estudos prospectivos e participação por meio de mídias sociais.

O modelo proposto pelo CompHP (Figura 2) inclui onze domínios de competências, nos quais a ética e o conhecimento figuram no centro do modelo que funciona como base dos demais nove elementos. Os valores e os princípios éticos para a promoção da saúde incluem a crença na igualdade, o respeito à autonomia e à escolha de indivíduos e grupos e formas de trabalho colaborativas e consultivas. As competências exigem que um promotor da saúde apoie suas ações com conhecimento multidisciplinar dos principais conceitos, princípios, teorias e pesquisas da promoção da saúde e sua aplicação prática.

As nove competências essenciais dos promotores da saúde são:

1. Permitir a mudança – capacitar indivíduos, grupos, comunidades e organizações para fortalecer a capacidade de ação e promoção da saúde para melhorar a saúde e reduzir as desigualdades.

2. Defender a saúde – advogar junto e em nome de indivíduos, comunidades e organizações para melhorar a saúde e o bem-estar e, assim, aumentar a capacidade de ação da promoção da saúde.

3. Mediação colaborativa – trabalhar de forma colaborativa entre disciplinas, setores e parceiros para aumentar o impacto e a sustentabilidade das ações de promoção da saúde.

4. Comunicação – comunicar ações de promoção da saúde de forma eficaz, com a utilização de técnicas e tecnologias apropriadas para diversos públicos.

5. Liderança – contribuir para o desenvolvimento de uma visão compartilhada e de uma direção estratégica para a ação de promoção da saúde.

6. Avaliação de necessidades – realizar a avaliação das necessidades e dos recursos (potencialidades), em parceria com as partes interessadas, no contexto dos determinantes políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais, comportamentais e biológicos que promovem ou compreendem a saúde.

7. Planejamento – desenvolver metas mensuráveis de promoção da saúde e objetivos com base na avaliação das necessidades e dos recursos, em parceria com as partes interessadas.

8. Implementação – implementar ações de promoção da saúde, de forma eficaz, ética e eficiente, culturalmente adaptada e em parceria com as partes interessadas

9. Avaliação e Pesquisa – usar avaliação adequada e métodos (quantitativos e qualitativos) de pesquisa, em parceria com as partes interessadas, para determinar o alcance, o impacto e a eficácia da ação de promoção da saúde.

Como desenvolver as competências essenciais?

No Brasil, a Portaria nº 2.446, publicada em 11 de novembro de 2014, redefine a Política Nacional de Promoção da Saúde e menciona a formação e a educação permanente em promoção da saúde como eixos prioritários. O texto destaca a necessidade de “mobilizar, sensibilizar e promover capacitações para gestores, trabalhadores da saúde e de outros setores para o desenvolvimento de ações de educação em promoção da saúde”.

O olhar sobre a educação de adultos traz o conceito de andragogia, ciência de orientar adultos a aprender (definição creditada a Malcolm Knowles, anos 1970). Para o objetivo deste artigo cabe apontar que adultos são motivados a aprender à medida que percebem aplicação imediata do aprendizado para resposta às suas necessidades e aos seus interesses. Em outras palavras, a experiência é o ponto disparador para o aprendizado.

Desse modo, sugere-se que, a partir da situação atual (e da situação-alvo) almejada pelo serviço, seja realizado o mapeamento de quais são as competências já presentes e quais estão ausentes ou precisam de melhoria. Defende-se que a análise detalhada, seguida de reflexão sobre a prática atual das ações de promoção da saúde no cotidiano da equipe voltada à saúde do trabalhador, seja o recurso deflagrador para o desenvolvimento e o fortalecimento das competências em promoção da saúde.

Quadro síntese – ver Tabela

Texto publicado originalmente na Revista Proteção de Fevereiro de 2015. A versão completa do artigo, com imagens, tabelas e referências, por ser visualizada aqui

Por |2015-02-11T14:54:50-02:0011 de fevereiro de 2015|Notícias|