Construção de rodovias com enfoque na prevenção de acidentes foi tema de dissertação de mestrado

Construção de rodovias com enfoque na prevenção de acidentes foi tema de dissertação de mestrado

Data: 11 de abril

O programa de pós-graduação da Fundacentro, neste ano, iniciou com a primeira defesa do aluno Cesar Penteado Kossa, o qual abordou o tema “Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho na construção de rodovias: Estudo de caso com foco na atividade de terraplenagem”.

Cesar Kossa foi orientado pelo pesquisador da Fundacentro de São Paulo, Gilmar da Cunha Trivelato. Gilmar é formado em química, mestre em educação e doutor em saneamento, meio ambiente e recursos híbridos. A banca foi composta pela doutora Adelaide Costa Nardocci, da Faculdade de Saúde Pública e pelo pesquisador da Fundacentro de São Paulo, Carlos Sérgio da Silva.

A atividade de terraplenagem consiste em amoldar o relevo terrestre para implantação de obras de engenharia, os quais englobam rodovias, ferrovias, canais de navegação e irrigação, edificações, barragens, dentre outros. A indústria da construção civil cresce em ritmo acelerado e, consequentemente, a contratação de mão de obra também. De acordo com Kasso, serão destinados à construção e manutenção de rodovias e ferrovias, o valor de R$ 133 bilhões (investimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), sendo que R$ 79,5 bilhões serão aplicados nos próximos cinco anos.

O projeto de pesquisa do mestre foi de conhecer as práticas de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (GSST) na construção de rodovias, sobretudo identificar dificuldades e propor recomendações de melhoria para o trabalhador. “Fui com a intenção de pesquisar esse tema desde o pré-projeto para a seleção do mestrado, pois o interesse surgiu em 2006, quando comecei a trabalhar na empresa de construção de rodovias”, discorre o Cesar.

Kossa desenvolve a função de gerente de segurança do trabalho, na 3º Milênio Consultoria e Treinamento em Segurança do Trabalho, Saúde e Meio Ambiente, em Goiânia. A empresa é especializada em programas prevencionistas, laudos técnicos e treinamentos. O gerente comenta que participar do programa de mestrado da Fundacentro foi para ele um sonho e concretização de um objetivo. Além disso, o curso atendeu as expectativas no que diz respeito ao aprendizado, “desde quando me envolvi com a área de segurança no trabalho, em 1985, o qual fiz o curso de técnico de segurança do trabalho nesta instituição, em convênio com o Senai, percebi que a Fundacentro é referência na área prevencionista. Sobretudo, tive a oportunidade de conhecer e estudar com os mais respeitados pesquisadores em saúde do trabalhador do País – foi uma honra”, salienta o gerente.

O trabalho de terraplenagem é feito em quatro etapas: escavação, carregamento, transporte e espalhamento. Esses estágios da obra requerem cuidados, que vão do manuseio de equipamentos e implementos apropriados para o serviço. Além disso, alguns procedimentos como equipamentos de segurança, local próprio para alimentação dos operadores, as máquinas precisam estar em boas condições e verificação das condições meteorológicas – são importantes para assegurar a saúde do trabalhador.

O mestre selecionou três empresas do ramo da construção de rodovias, situadas na região centro-oeste, os quais estavam em andamento de terraplenagem. Foi utilizado um roteiro com um protocolo de pesquisa para coleta de dados, para entender a forma de trabalho sob o aspecto da SST dessas empresas realizou-se reuniões.

Uma análise feita pelo aluno é de que as especificidades da construção de rodovias não seguem uma rotina de produção, são realizadas várias tarefas ao mesmo tempo e em diversos ambientes diferentes – a alta rotatividade e flutuação de trabalhadores também foram observadas.

Durante as pesquisas, Cesar Kasso percebeu que existe um leque de dificuldades no setor que são relacionadas à logística, que englobam alimentação, água, sanitários, transporte e alojamentos. Outros pontos apontados é que não existem no Brasil estudos a respeito do tema, legislação específica e dificuldades de formação de uma consciência e cultura prevencionista.

Os serviços de terraplenagem são divididos basicamente em quatro operações básicas, que podem ocorrer em duas modalidades: sequencial ou simultânea. Esse ciclo de operação começa com a escavação, após a carga do material escavado, seguindo para os três últimos procedimentos tais como transporte, descarga e espalhamento do material.

Durante a defesa do gerente de segurança, foi possível perceber a sua preocupação com os cuidados que devem ser tomados em todas as etapas da obra. São cuidados na utilização de equipamentos, providências quanto aos equipamentos de segurança, estadia e alimentação dos operadores.

As identidades das três empresas analisadas ficaram em sigilo, nomeando-as como A, B e C. Kasso explanou que os aspectos analisados nessas empresas foram as características gerais, tais como o desenvolvimento das atividades e ambientes de trabalho na terraplenagem. E quais eram as informações de segurança e saúde no trabalho disponíveis aos trabalhadores, avaliação e controle de riscos nas atividades.

“Foi preciso realizar reuniões com representantes das empresas, em especial, com os responsáveis pelo Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT, análise de documentos e visitas às obras”, relata o mestre.

O gerente de segurança salientou que para estimar o nível de risco construiu-se uma matriz de risco com base na combinação da severidade (S) e com probabilidade (P) da ocorrência de consequências negativas.

O tempo de funcionamento da empresa A é de 27 anos e trabalham 2.300 funcionários, com trinta e sete obras em andamento e seis obras com terraplenagem. Já a empresa B, tem 20 anos de funcionamento, trabalham 660 funcionários, com doze obras em andamento e cinco com terraplenagem. A empresa C tem mais de 30 anos e trabalham 500 funcionários, com três obras em andamento e duas com terraplenagem.

“As três empresas utilizam mão de obra terceirizada. As máquinas de terraplenagem da empresa A é terceirizada, a empresa B mista (própria e terceirizada) e a C própria. A manutenção da B e C são realizadas pelas próprias empresas. Acredito que seja um pouco positivo o método da empresa A que aluga as máquinas, por sua vez, o engenheiro de segurança desta empresa pode exigir a manutenção para garantir a segurança. O grande problema da empresa C é que as manutenções não são feitas, pois a empresa passa por problemas financeiros”, explana Cesar.

O gerente de segurança relatou que os níveis de identificação de riscos que compõem doenças como perda auditiva induzida por ruído, transtornos respiratórios e lesões graves ou fatais como queda de nível e tombamento das máquinas sem cabine, são mais elevados do que as máquinas com cabine.

No que concerne à gestão dessas empresas é que nenhuma tem o funcionamento eficaz do Sesmt, o qual é exigido pela norma regulamentadora. “Outro ponto negativo das empresas foi à falta de capacitação dos trabalhadores. A comunicação de SST também é deficiente, por outro lado, as empresas A e C tem Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), mas elas não participam ativamente das questões sobre segurança e saúde no trabalho”, enfatiza Kossa.

Uma análise feita sobre o perfil desses trabalhadores, sobretudo dos mais velhos por idade que são os mais especializados, em contrapartida, o nível de escolaridade é baixa com relação aos mais jovens.

Cesar salienta que devem ser criados mecanismos eficazes para a avaliação e controle dos riscos, o qual é imprescindível a participação dos trabalhadores no que tange à segurança, saúde e bem estar.

“Não adianta implantar procedimentos para a detecção de problemas relativos à segurança e saúde no trabalho, se as empresas não se estruturarem para estudar, planejar e implementar medidas de controle de avaliação e de melhoria contínua, visando não só cumprir o prescrito nas normas vigentes, mas efetivamente aplicar mecanismos que possibilitem a preservação da saúde e da integridade física dos trabalhadores”, finaliza o mestre.

A doutora Adelaide Nardocci ressaltou que o trabalho foi bem fundamentado, principalmente a questão social que é importante que tenha um maior estudo e análise que contribua em uma mudança nas questões de SST. “Cumprir a norma é o mínimo, agora, a cultura de segurança é muito mais forte, isso é utilizado na área nuclear. A comunicação de risco também é importante para que possa inserir o trabalhador no processo de trabalho”, salienta Adelaide.

Carlos Sérgio comentou que o aluno desde o início das aulas tinha um ponto positivo, mesmo vindo de Goiânia para São Paulo, aproveitava o máximo de todas as aulas.

Gilmar Trivelato comentou que foi um aprendizado ser orientador do aluno, “mesmo sendo orientador, o qual aponta dicas para os alunos, nesse processo também aprendemos. Agradeço a oportunidade pela experiência e posso dizer que serviu como um aporte”, esclarece o pesquisador.

A dissertação de mestrado ainda não está disponível para consulta no acervo da biblioteca da Fundacentro.

Fonte: Fundacentro

Por |2014-04-14T08:21:34-03:0014 de abril de 2014|Notícias|