Médico toxicologista explana sobre riscos químicos e físicos

Médico toxicologista explana sobre riscos químicos e físicos

Data: 1º de novembro

Alunos da pós-graduação e também profissionais interessados pelo tema “Doenças Relacionadas ao Trabalho – Agentes Químicos e Agentes Físicos”, assistiram a palestra do médico da Fundacentro, José Tarcísio Penteado Buschinelli.

O médico toxicologista tem experiência em saúde pública e atua principalmente nos temas sobre toxicologia ocupacional e avaliação de riscos químicos. Antes de abordar alguns metais, Tarcisio passou um vídeo que foi produzido por ele, no qual retrata a vida de três trabalhadores que foram contaminados pelo manganês. O vídeo tem referência em um trabalho sobre “A história do padre”, cujo filme tem aproximadamente quarenta anos e conta a história de alguns funcionários que foram intoxicados pelo manganês e que apresentavam os primeiros sintomas da doença.

“Na época, não sabiam que esses trabalhadores tinham sido intoxicados pela substância e quando começaram a cair e a rir – alguns achavam que o trabalhador tinha bebido, diante disso, o padre resolveu pesquisar na enciclopédia de Higiene do Trabalho sobre o produto manganês, no qual observou que os trabalhadores apresentavam um quadro de toxicologia”, relatou o médico.

Buschinelli disse que a história do padre ocorreu entre o final dos anos 60 e começo de 70, quando o sacerdote observou que em sua paróquia alguns frequentadores que iam à missa apresentavam um andar estranho. No olhar de outros frequentadores e vizinhos – eles estavam embriagados. Porém o padre resolveu investigar e constatou que essas pessoas trabalhavam na mesma siderúrgica que produzia ligas de ferro e que utilizavam produtos químicos e dentre eles – o manganês.

“O padre raciocinou como se fosse um epidemiologista e procurou os trabalhadores com sintomas parecidos. Publicou no jornal paroquial que os trabalhadores estavam em um ambiente de trabalho que oferecia risco à saúde”, relatou Tarcísio.

O médico mencionou que os trabalhadores foram encaminhados para o Serviço Social da Indústria (SESI) e foram atendidos pelo médico Bernardo Bedrikow, que diagnosticou intoxicação pelo manganês, “ com esse resultado a fábrica foi fechada”, finalizou Buschinelli.

“Os trabalhadores eram expostos a fumaça e gás do produto e quem não conhece a doença pelo manganês, pensa que a pessoa está alcoolizada, pois os sintomas deixa a pessoa cambaleando, rindo ou até chorando à toa”, explanou Tarcísio.

Após dez anos desse ocorrido, o médico toxicologista e a doutora Elisabeth Costa Dias da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) fizeram pesquisa de campo em Minas Gerais e conseguiram entrevistar três trabalhadores. “Um dos três apresentava um quadro de paralisia facial e nos membros superiores e inferiores, ele trabalhava em uma olaria”, comentou Tarcísio. Disse ainda, que os sintomas do manganismo provocam alterações de humor e não estão ligados ao estado emocional do paciente, além disso, o distúrbio neurológico também lembra o mal de Parkinson.

Outras substâncias foram abordadas pelo médico, como o mercúrio metálico, “a toxicologia do mercúrio não pode ser respondida de forma geral, é necessário saber qual é o produto específico, para que possa realizar os exames e o tratamento correto”, declarou Tarcísio.

Os sintomas do mercúrio metálico relatado pelo médico envolve a parte motora, no qual o trabalhador não consegue desenvolver atividades rotineiras, como comer e abotoar a camisa por exemplo. Além de perder as atividades mecânicas, a memória também é prejudicada. Citou também no seminário o caso de Minamata onde a população japonesa foi contaminada pelo mercúrio.

José Tarcísio disse que assim como o mercúrio, a intoxicação pelo cromo também é totalmente diferente e precisa ser analisado corretamente. Já no caso do chumbo inorgânico – as pessoas que são expostas apresentam cólica, fraqueza, anemia, linha da gengiva azul, alterações de humor e entre outras. “Em 1974, uma fábrica de baterias em Minas Gerais adotou um método totalmente errado de prevenção, deixando a metade dos trabalhadores no seguro e a outra trabalhando”, relatou o médico toxicologista.

No caso do zinco, ou cobre com zinco – não intoxica. O sintoma é a febre dos fundidores de latão e a fumaça prejudica, sendo que depois de vinte e quatro horas desparece. “Nesse caso não adianta remédio e, sim, um ambiente de trabalho com ventilação adequada”, ressaltou Tarcísio.

O cromo pode causar câncer no pulmão, corrosão de pele e mucosas e perfuração do septo nasal. “Se o trabalhador apresenta alergia ao cimento, consequentemente terá dermatite de pele”, relatou o médico. Tarcísio Buschinelli disse que o trabalhador que apresenta doença de trabalho tem que ser adaptado em outra função e também tem que receber auxílio doença.

Na década de 80, o pesquisador e outros colegas de trabalho leram em um jornal a propaganda de uma empresa pequena que vendia benzeno (solvente) para qualquer pessoa e acharam um absurdo à comercialização do produto feita dessa forma. “Todos nós estamos expostos ao benzeno que está no ar, principalmente quem mora na grande metrópole, porém, vale destacar que a quantidade que a pessoa está exposta é que precisa tomar cuidado”, ressaltou o médico.

O médico relatou que um trabalhador desenvolvia suas atividades em uma funilaria e que o ambiente não era adequado, quando chovia o funcionário fechava a porta e pintava os carros de porta fechada. “Certo dia esse trabalhador foi dormir e quando acordou estava cego, muitos casos de acidentes de trabalho se faz pela informalidade e a improvisação do ambiente, nesse caso, o trabalhador substituiu o etanol pelo metanol”, explanou José Tarcísio.

Disse ainda que o funcionário não voltou a enxergar, vê tudo em borrões e o exame constatou o contato sistêmico, no qual o nervo ótico é destruído. “Encaminhei o caso para o Ministério Público e aguardo resposta”, relatou o toxicologista.

Uma observação do médico foi que as fábricas que são autuadas em um determinado estado, geralmente vão para outro e, inclusive são transferidas dentro do território MERCOSUL.

Sobre os riscos físicos, o médico explanou que são agentes que têm capacidade de modificar as características físicas do meio ambiente e que pode provocar alterações no corpo do trabalhador. Esses agentes são provocados por vibração (doença do martelete), ruídos que geram danos ao aparelho auditivo, iluminação que provoca lesões na visão, calor e as radiações ionizantes e não-ionizantes.

Tarcísio Buschinelli produziu o “Manual de orientação sobre controle médico ocupacional da exposição a substâncias químicas”, que será publicado em 2014.

O próximo seminário será com o pesquisador da Fundacentro de Minas Gerais, Gilmar da Cunha Trivelato que abordará “Prevenção de explosões na fabricação de fogos de artifício: relato de uma experiência bem sucedida”, no dia 4/11. Informação sobre o seminário está disponível no site da instituição, no link eventos.

Fonte: Revista Proteção

Por |2013-11-04T14:54:52-02:004 de novembro de 2013|Notícias|