Semana da Pesquisa debate organização do trabalho

Semana da Pesquisa debate organização do trabalho

Data: 24 de outubro

A X Semana da Pesquisa da Fundacentro discutiu na tarde de 22 de outubro o tema organização do trabalho. Em um primeiro momento, discentes do Programa de Pós-Graduação “Trabalho, Saúde e Ambiente” e pesquisadores da Fundacentro apresentaram suas pesquisas. Depois, houve um debate com Cristiane Queiroz, tecnologista da instituição, e Renata Paparelli, professora do curso de psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.

Os trabalhos apresentados mostraram que a organização do trabalho pode ter várias expressões, segundo a análise de Cristiane Queiroz. Foram abordagens a partir do modelo de gestão, a discussão da organização por formas de intervenção e, por fim, a partir das consequências.

A tecnologista da Fundacentro destacou que muitas vezes a gestão é baseada na racionalização e burocratização, com o armazenamento de dados e documentos. Também há os modelos de gestão individualizantes. As pesquisas mostraram a necessidade de “modelos de intervenção” e da “contextualização dos nossos trabalhos”. “Qual a aplicabilidade de instrumentos normativos que não levam em conta as condições sociais e econômicas, mas somente aspectos técnicos?”, questionou Queiroz.

Por outro lado, há um discurso da excelência e do controle emocional. Já as violências são perpetuadas em diferentes esferas, como mostram casos relatados por trabalhadores atendidos pelo INSS. “O sistema como um todo violenta. A violência não está só na forma de gestão da empresa, permeia o espaço público de atendimento”, avalia a tecnologista.

Já Renata Paparelli destacou a relação da fadiga com os acidentes fatais e com as questões psíquicas. O processo de esgotamento contribui para o isolamento. Esse tipo de acidente traz repercussões para os outros como o medo e a impossibilidade de controle.

Outros aspectos destacados pela professora da PUC/SP foram a importância das metodologias participativas, em que o trabalhador atue junto no enfretamento dos problemas, o controle mais sutil da subjetividade nas novas formas de gestão e as práticas assediadoras como parte da gestão das empresas.

“No taylorismo/fordismo se queria a obediência, hoje se quer a adesão. Os laços com o mundo se rompem. A vida se passa na empresa e sem a empresa se perde tudo. O sofrimento psíquico se intensifica nessas novas formas de organização do trabalho”, conclui Paparelli.

Transporte rodoviário de cargas

O transporte rodoviário de cargas e os desafios da fiscalização foram apresentados pelo discente Ademar Fragoso Junior. Segundo dados do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) fornecidos à Secretaria de Inspeção do Trabalho, os motoristas de caminhão apresentam o maior número de mortes por acidente de trabalho no Brasil, com 1.452 óbitos entre 2005 e 2008, e 836 casos de 2011 a 2012.

O objetivo da pesquisa foi analisar como a Fiscalização do Trabalho tem se organizado e atuado em relação ao setor. A jornada foi considera regular em 67% dos casos fiscalizados e regularizada durante a fiscalização em 13%. Desse último total, apenas 12% resultaram em autuação. Já o descanso foi considerado regular em 75% das fiscalizações e em 11% dos casos regularizado durante a ação fiscal.

Desenvolvimento sustentável em assentamentos

Já o pesquisador da Fundacentro José Prado apresentou sua tese sobre os projetos de desenvolvimento sustentável em assentamentos rurais do estado de São Paulo. O estudo buscou trazer a percepção dos assentados. Para tanto, utilizou a pesquisa participativa como metodologia e a realização de oficinas que resultaram em 120 horas de gravação.

“A agricultura familiar em um país como nosso é central na produção de alimentos”, explica Prado. São 12 milhões de trabalhadores, 84 % dos estabelecimentos, e os assentamentos fazem parte desse universo. Na pesquisa, foram constatadas dificuldades no saneamento básico.

“A retórica do desenvolvimento sustentável não resiste às condições reais vivenciadas. Vive-se uma invisibilidade crônica e uma dissociação entre o discurso oficial da política pública e a realidade”, conclui o pesquisador da Fundacentro.

Trabalho no setor de alumínio

Outra tese de doutorado apresentada foi a da tecnologista da Fundacentro Laura Nogueira. Ela estudou a relação de prazer e sofrimento dos trabalhadores do setor de alumínio no Pará. Para tanto, realizou 44 entrevistas com diferentes atores do processo – trabalhadores, ex-trabalhadores, sindicalistas, familiares e gestores e técnicos da empresa estudada, além de análise documental.

Os trabalhadores se queixavam sobre processos de adoecimentos relacionados ao trabalho. “Na primeira visita que fizemos nos chamou a atenção o calor a que os trabalhadores estão expostos”, relembra Nogueira. O esforço físico e temperatura são citados como aspectos penosos do trabalho

A gestão da segurança leva em conta os mesmos critérios da gestão da produção Segundo esse olhar, há ausência de cultura de segurança pela falta de tradição industrial na região. Não há assim uma discussão aprofundada sobre condições de trabalho.

O prazer no trabalho quase não foi identificado, limitando-se ao dever cumprido e à colaboração com a produção. O sofrimento abrange questões como medo, estresse e falta de reconhecimento. A negação do risco foi vista como defesa coletiva. Essa análise teve como referencial teórico a psicodinâmica do trabalho.

Assédio moral

A técnica da Fundacentro, Ana Soraya Bomfim, discutiu o tema assédio moral a partir de uma pesquisa que vem realizando em Salvador/BA. Para tanto, realiza entrevistas em profundidade, aplicação de enquete estruturada e de questionários. Avalia-se, assim, a percepção dos trabalhadores e diretores sindicais de diferentes categorias sobre o tema.

A pesquisadora destacou a precarização das relações e condições laborais, o sofrimento físico e mental dos trabalhadores, a intensificação do trabalho e a existência de metas abusivas. O relato de um trabalhador que sofre assédio moral foi apresentado em vídeo.

“Sindicalistas são perseguidos e sofrem violência e humilhação, que consegue destruir também a vida social e familiar”, explica Soraya Bomfim. Para mudar esse cenário, é preciso resgatar os laços sociais e criar uma nova forma de organizar o trabalho, respeitando a autonomia dos trabalhadores.

Educação

Outro trabalho realizado na Bahia focou o trabalho dos professores, que começou com dois cursos. Um voltado para a organização do trabalho e a saúde mental dos professores. O segundo sobre limites e possibilidades na construção de um trabalho mais saudável. Em setembro de 2011, os temas foram fundidos.

Um único curso com 25 professores buscou escutá-los e depois fazer uma exposição marcada pelo diálogo. Todos eram instigados a participar e serem ouvidos como sujeitos participantes. “Quando chegávamos perto da questão do sofrimento, eles recuavam. Eram sempre os outros”, relata a tecnologista da Fundacentro, Maria Engrácia Chaves.

As vivências negativas relatadas foram condensadas em sobrecarga de atividade e assédio moral. Como consequências, apontaram adoecimento, desmotivação, estresse, baixa imunidade, impotência, descompromisso e baixa autoestima. A pressão e a sobrecarga física e mental levavam ao esgotamento e medo. Também foram relatadas condições de trabalho inadequadas, infraestrutura precária e falta de solidariedade entre os colegas.

Com a ação, os professores passaram da posição de negação para o enfrentamento do sofrimento. Assim emergiram possibilidades de enfrentamento e de ação coletiva. O enfrentamento pode transformar o sofrimento em prazer.

Fonte: Fundacentro

Por |2013-10-28T11:24:20-02:0028 de outubro de 2013|Notícias|