Data: 25 de janeiro
Manaus/AM – Trabalhadores envolvidos na confecção de carros alegóricos das escolas de samba do grupo especial de Manaus manuseiam produtos químicos, eletricidade e até máquinas de solda sem o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Em alguns barracões, dormitórios utilizados para abrigar operários vindos de outros municípios – principalmente Parintins, apresentam banheiros sujos, lixo no chão e mau cheiro.
A Superintendência Regional do Trabalho (SRTE) realizará vistorias nos barracões para verificar em que situação os operários das escolas estão trabalhando. No barracão da Escola de Samba Sem Compromisso, que conta com aproximadamente dez profissionais, entre escultores, pintores, aderecistas e soldadores participando da execução dos carros, funcionários transitam de bermuda e sandália em meio aos pedaços de ferro enferrujados.
Até mesmo os soldadores, expostos a fagulhas capazes de causar cegueira, não utilizam máscaras de proteção obrigatórias durante a atividade. Apenas após ser questionado pelo Portal D24AM, o responsável geral pelos carros alegóricos da escola, Mauro Santos, orientou os trabalhadores a utilizar o equipamento de proteção.
Mesmo com a grande quantidade de produtos inflamáveis no barracão, oito extintores de incêndio aguardavam, nesta segunda-feira, para serem recarregados. No barracão da Escola de Samba Vitória Régia, onde atuam 18 pessoas, operários correm o risco de serem eletrocutados ao manusearem máquinas de solda sem a presença de luvas e botas isolantes. A falta de tomadas adequadas à capacidade dos equipamentos é outro problema presente no local dos serviços, levando os fios descascados das máquinas a serem ligados diretamente à caixa de energia, localizada a poucos metros de produtos inflamáveis como solvente e cola.
Alojados em dormitórios improvisados, quando não têm família em Manaus, os trabalhadores do barracão precisam comer, dormir e até tomar banho em meio ao lixo e roupas sujas. “Tinha um rapaz que vinha e deixava tudo limpo, mas desde sábado, quando ele recebeu, não o vejo”, disse o artista plástico da agremiação, Mizael Costa. Na escola de samba A Grande Família, onde 16 trabalhadores se revezam na confecção dos adereços, o forte cheiro de cola sentido já na entrada do barracão é encarado com naturalidade pelos operários sem máscara de proteção.
“Fazer mal faz, mas quem bebe e fuma também sabe que não faz bem e nem por isso para”, afirmou o artista plástico responsável pela confecção dos carros, José Trindade.Poucos metros em frente, rapazes trajando camiseta, bermuda e sandália cortavam pedaços de isopor com o auxílio de fios ligados à corrente elétrica, correndo risco de morrerem eletrocutados.
Procurado para comentar o caso, o presidente da Super Liga das Escolas de Samba, Elimar Cunha, afirmou estranhar a presença de trabalhadores sem proteção nos barracões, uma vez que “todas as escolas dispõem dos acessórios”. Em alguns casos, o equipamento chega, mas o próprio trabalhador não quer utilizar”, disse.
A SRTE vai fiscalizar situação das agremiações
O chefe da seção de inspeção do trabalho da Superintendência Regional do Trabalho (SRTE), Edson Rebouças, informou que mesmo sem registro pelo órgão de nenhuma denúncia até ontem, uma fiscalização será realizada nos barracões das escolas de samba de Manaus, nos próximos dias.
“Não podemos divulgar o dia, mas antes do evento estaremos nesses locais para averiguar não só a segurança como a situação trabalhista dos funcionários”, informou. O Regime de contratação e as condições de higiene devem figurar entre os critérios inspecionados pelo órgão.
Dependendo das irregularidades encontradas, as escolas de samba podem ser autuadas e até interditadas, nos casos de risco iminente de morte. Com prazo de dez dias para apresentar justificativa, as escolas com recurso negado estão sujeitas a multas de R$ 2 mil a R$ 100 mil, por infração.
Fonte: Revista Proteção