Data: 14/02/2012
Os agrotóxicos estão presentes na vida diária de milhões de trabalhadores do campo. Seu uso indevido, no entanto, contribui para a degradação ambiental, além de ser frequente a ocorrência de intoxicações, constituindo um dos principais problemas de saúde pública no meio rural brasileiro. Esse é o alerta que faz o estudo “Avaliação do impacto da exposição a agrotóxicos sobre a saúde de população rural. Vale do Taquari (RS, Brasil)”, publicado em agosto de 2011 na revista Ciência & Saúde Coletiva.
O estudo analisou a possível associação entre contato com agrotóxicos e a prevalência de doenças crônicas na população rural do Vale do Taquari, importante zona agrícola do Rio Grande do Sul. A autoria é de Iraci Lucena da Silva Torres, professora do departamento de Farmacologia da UFRGS e colegas do Centro Universitário Univates e da Universidade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre.
Segundo a pesquisa, o Brasil é o terceiro mercado e o oitavo maior consumidor de agrotóxicos por hectare do mundo, sendo herbicidas e inseticidas responsáveis por 60% dos produtos comercializados no país. “Três são as principais vias responsáveis pelo impacto direto da contaminação humana: a ocupacional, que se caracteriza pela contaminação dos trabalhadores que manipulam essas substâncias; a ambiental, que ocorre por meio de dispersão/distribuição dos agrotóxicos ao longo dos diversos componentes do meio ambiente; e a alimentar, que se dá pela contaminação relacionada à ingestão de produtos contaminados por agrotóxicos”, explicam os autores no artigo.
Os pesquisadores entrevistaram 298 pessoas. Dessas, 68,4% informaram utilizar agrotóxicos. Os resultados mostram uma associação entre o contato com agrotóxicos e o relato de doenças neurológicas e também síndromes dolorosas.
“Indivíduos com contato com agrotóxicos apresentaram 2,5 vezes mais chances de relatar doenças neurológicas e 2 vezes mais chances de relatarem síndromes dolorosas do que os sem contato. Agrotóxicos de vários grupos, como organofosforados, carbamatos, organoclorados, piretroides e outros, se associam a efeitos neurológicos agudos com exposições a altas doses”, explicam os autores.
Eles também contam que podem haver sequelas tanto sensitivas quanto motoras, além de deficiências cognitivas transitórias ou permanentes. E destacam a possível inter-relação entre a exposição crônica a agrotóxicos e o desenvolvimento de doenças degenerativas do sistema nervoso central.
“Em estudo realizado em Nova Friburgo (RJ), verificaram respostas alteradas ao exame neurológico periférico do sistema motor e sensitivo em uma amostra de 102 pequenos agricultores, de ambos os sexos, sugerindo neuropatia tóxica, com provável degeneração axonal”, dizem na pesquisa.
Segundo a pesquisa, a exposição ocupacional a pesticidas tem sido relacionada a outros efeitos prejudiciais à saúde, incluindo doenças que afetam pele, olhos e trato respiratório, podendo levar à morte. “Intoxicações por agrotóxicos são frequentes entre os agricultores, determinando, por vezes, a proibição médica do trabalho na lavoura e a orientação para outro tipo de atividade profissional”, alertam os autores.
Para ver o artigo na íntegra, acesse: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141381232011000900020&script=sci_arttext.
Fonte: Agência Notisa