Volume de doenças ocupacionais no Amazonas preocupa associação

Volume de doenças ocupacionais no Amazonas preocupa associação

Data: 01/10/2011

O Amazonas oscila entre os primeiros lugares no ranking nacional de doenças ocupacionais. Seja nas fábricas ou no comércio, o trabalhador em Manaus, por exemplo, está exposto a uma série de doenças que vão muito além das conhecidas lesões por esforço repetitivo ou doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (LER/DORT).

Hoje, o trabalhador encara problemas de saúde decorrentes de assédio moral e distúrbios psíquicos, como síndrome de pânico e depressão. Tentando reverter este quadro, a Associação Nacional de Medicina do Trabalho – regional do Amazonas (ANMT/AM) reuniu profissionais em um evento para melhorar a capacitação e a qualificação das equipes.

“Sair da liderança deste ranking passa por maior investimento das empresas na qualificação e capacitação das equipes de saúde e segurança do trabalho”, afirma o presidente da ANMT/AM. Em entrevista, Ricardo Turenko Beça falou sobre os principais problemas de saúde causados pela atividade laboral e alertou para o excesso de horas extras feitas pelos trabalhadores nos últimos meses do ano – quando a economia local fica superaquecida.

Quantos são os médicos especializados na área e como está o quadro atual de saúde do trabalhador amazonense?
Temos uma boa quantidade de médicos, acima de 200 nessa especialidade. Agora, o Polo Industrial de Manaus é onde existe uma das maiores incidência de doenças ocupacionais do país. No ranking nacional, estamos sempre entre os primeiros.

Porque chegamos a esse nível?
O investimento em atualização, capacitação e preparo das equipes de saúde e segurança no trabalho é baixo. Esse investimento ainda é visto como secundário nas empresas. Assim, acabamos não tendo equipes preparadas para fazer frente aos problemas e a incidência de doenças laborais aumenta.

A Associação Nacional dos Médicos do Trabalho realizou na semana um encontro em Manaus. Qual o foco das discussões?
O foco era atualização em Medicina, e tratamos de temas como doenças ocupacionais, LER/DORT e atualização de normas técnicas, onde muita coisa mudou.

Quais normas mudaram e o que elas normatizam?
A NR 12, que trata de como evitar acidentes do trabalho no manuseio de máquinas e equipamentos. A NR 32, que trata dos riscos de manipulação de agentes biológicos e de riscos para quem trabalha em hospitais ou em ambientes de unidades de saúde. Tratamos também de novos distúrbios que afetam o trabalhador.

Quais são eles e como o médico atua nestes casos?
O assedio moral, por exemplo, exige muito cuidado por parte dos médicos do trabalho. Ele pode motivar uma doença psiquiátrica ou distúrbios do tipo ansiedade, depressão ou transtornos do humor. Ao médico do trabalho cabe estar preparado para identificar o problema, recorrer a especialistas quando for o caso. A preocupação é saber como identificar precocemente, diagnosticar e tratar o mais rápido possível doenças como depressão, ansiedade, síndrome de pânico, pois hoje todas podem ser motivadas pelo trabalho.

O quadro ruim do Amazonas é um problema da indústria ou está presente também em outros setores da economia?
Esse quadro é geral e deve-se, por exemplo, às condições sanitárias que ainda vemos em canteiros de obras. Muitas empresas não oferecem as condições sanitárias mínimas para os trabalhadores. Infelizmente, essa é a realidade.

Isso independe do tamanho da empresa?
Nas multinacionais, vemos menos problemas porque há muita fiscalização. E mesmo assim não vemos o cuidado em investir e preparar médicos, engenheiros e enfermeiros na atualização dos temas. Nós realizamos eventos com especialistas capacitados, mas poucos profissionais são liberados pelas empresas para comparecer. Não custa lembrar que é obrigação da empresa cuidar da segurança e da saúde do trabalhador.

Esse quadro também se estende ao comércio, um dos segmentos que mais gera empregos em Manaus?
Vá ao comércio de Manaus e procure localizar uma cadeira para o trabalhador descansar. Não tem, e o funcionário fica oito horas em pé. No final, ele terá problemas circulatórios, varizes de membros inferiores, problemas posturais; e essa situação gera a insatisfação do colaborador, que percebe a falta de cuidado com a saúde dele.

Os empresários reclamam muito do excesso de atestados para dispensa do trabalhador. Como o senhor vê essa situação?
A Medicina do trabalho não dá atestado. Quem dá são outros médicos. O médico do trabalho recebe e analisa a incidência das doenças anotadas no atestado. Faz um trabalho estatístico. A problemática do atestado não depende da Medicina do Trabalho, porque fazemos apenas a tratativa para saber o motivo do trabalhador estar se afastando.

Qual o futuro da Medicina do Trabalho?
O próximo passo na regional é trazer capacitação e qualificação para as equipes e melhorar o status do nosso Estado. O status de cidade com maior incidência de acidentes e doenças ocupacionais do país precisa mudar. Temos de atuar com a Superintendencia de Trabalho e Emprego (SRTE), Ministério Público do Trabalho e Suframa, pois só assim vamos trazer melhores condições e qualidade de vida para os trabalhadores.

A propósito de qualidade de vida, os últimos três meses do ano são marcados pelo crescimento do número de horas extras. Quais os perigos que isso representa para o trabalhador que está de olho numa renda extra para o fim de ano?
Hora extra deve ser feita com parcimônia, com cuidado. Do contrário, causará sobrecarga no trabalhador, principalmente onde tem esforços repetitivos. O ideal é ter moderação. Também é preciso que a fiscalização atue para impedir os abusos.

Fonte: A Crítica Manaus

Por |2011-10-11T10:12:00-03:0011 de outubro de 2011|Notícias|