Data: 20/09/2011
A pele rapidamente muda de cor, as roupas são cobertas por uma densa camada de poeira branca. Os olhos e a boca ressecam. O calor produzido pelos fornos que tomam conta do ambiente é intenso. Transforma as grandes salas em saunas. O suor que escorre do rosto vira uma pasta branca. Pequenas lesões por queimadura são comuns nos trabalhadores da indústris de cal no Brasil.
O ambiente insalubre, tomado por uma névoa tóxica, é o local de trabalho de milhares de pessoas. Um exército formado por indivíduos mais simples, que se dispõe a um dos trabalhos mais degradantes e condições inaceitáveis.
O equipamento de segurança fornecido pelas empresas responsáveis pelos fornos não é o mais adequado, tampouco o mais seguro. As normas do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) são descumpridas em todos os quesitos. Apesar de representantes do setor alegarem que mudanças estão à vista, a realidade é outra.
Durante 12 horas, o trabalhador responsável por alimentar os fornos aspira quantidades absurdas de pó. A longo prazo, quem se expõe neste ambiente pode ser afetado por doenças pulmonares, entre elas enfisema pulmonar.
As mucosas do nariz e da boca são as primeiras barreiras a sofrerem retrações pela cal. é comum os trabalhadores terem problemas respiratórios como rinite, reversível para aqueles que param de trabalhar diretamente com os fornos e a poeira. A poeira da cal é altamente corrosiva, ainda mais quando em contato com a umidade.
As roupas de proteção não são as mais adequadas: muitos usam camisas de flanela e calças jeans, além dos sapatos mais velhos e surrados para a labuta diária. O equipamento de proteção adequado não é a principal preocupação dos proprietários, já que a mão de obra é considerada descartável. Essa realidade para Elver Morante, médico do Ministério Público do Trabalho (MPT), não é incomum neste ramo. Os investimentos por parte das empresas não condiz com a realidade encontrada nestes fornos.
Além da saúde dos trabalhadores, o meio ambiente também sofre, pois muito do que é produzido fica em suspensão no ar. Levada pelo vento, a poeira pode atingir casas e pessoas distantes quilômetros das fábricas brancas. No entanto, este problema tem sido contornado, ao menos é o que defende a Associação dos Produtores de Derivados do Calcário (APDC).
Segundo representantes da categoria, há dez anos medidas de prevenção têm sido tomadas no intuito de minimizar os efeitos nocivos ao meio ambiente. Mas as medidas de proteção coletivas não são realizadas.
Fonte: Paraná Online