Data: 20/06/2011
Um mundo regido por metas impõe o ritmo da produção e da economia. Quando a busca por eficiência extrapola o compasso ideal para a saúde humana, no entanto, a tendência é que os resultados sejam inversos ao esperado. Empresas que já perceberam essa prerrogativa sabem que os gastos em tempo e dinheiro no capital humano são, na verdade, um investimento.
De programas elaborados focados na qualidade de vida dos funcionários até mudanças simples no ambiente de trabalho são atitudes que podem resultar em mais produtividade do que os índices a serem alcançados no fim do mês. Isso porque garantem a redução de incidência de doenças e a motivação dos funcionários em permanecer dentro da empresa.
“As corporações que colocam em prática a sustentabilidade sabem que ela inclui também o ser humano”, exemplifica o presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), Carlos Campos. O médico lembra que o trabalhador deve ser visto de forma sistêmica e sua qualidade de vida encarada como um assunto estratégico da empresa, iniciando pelo seu diagnóstico, a exemplo de qualquer outro fator de produtividade. Conforme Campos, a qualidade de vida do trabalhador é um equilíbrio entre diferentes caracteres, como espiritual, social e profissional. Mesmo a segurança e a remuneração são parte desse universo, fatores que influenciam o rendimento do trabalhador consciente ou inconscientemente. Por isso há muitas atitudes que, visando a cada um desses pontos, podem ser tomadas pelas empresas.
O passo inicial, no entanto, é trabalhar o psicológico. Mesmo as lesões por esforço repetitivo (LER) e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), lembra Campos, podem ser causados pelo emocional. Segundo ele, 30% das doenças do trabalho – que atualmente ultrapassam os casos de acidentes de trabalho no País – são resultado de fatores mentais. A causa disso pode ser remediada com ações simples e mesmo sem custo. “O gestor deve investir em cinco ou dez minutos diários de pausa para o colaborador, para que este faça alguma atividade física ou, simplesmente, nada”, aconselha a consultora de qualidade de vida Carla Lubisco.
Outra solução simples, conforme ela, é uma “sala para fazer nada”. No local, pode ser realizada uma técnica de respiração, para oxigenar o organismo e não dar chance para a ansiedade. é uma atitude simples que pode aumentar a disposição e a produtividade dos empregados. Mas investimentos em ginástica laboral, técnica de relaxamento, alimentação e, principalmente, apoio psicológico podem impulsionar a produtividade de maneira visível. A consultora, que assessora grandes empresários para que repensem sua rotina, sabe que o investimento dos trabalhadores sempre dá retorno. “Resulta na figura de um colaborador mais saudável, feliz e produtivo”, garante.
O argumento da alta carga horária brasileira, conforme Campos, não passa de desculpa. O gestor deve se preocupar mesmo com a carga física e mental que as atividades demandam. “Nem sempre o trabalho prescrito é o real. Em algumas profissões, o inesperado pode ser o maior responsável pela sobrecarga”, argumenta. Por isso, a adaptação depende do quanto cada empresa conhece sua rotina.
Profissão e vida pessoal precisam manter equilíbrio
Conforme o presidente da Anamt, Carlos Campos, as empresas têm que abrir o olhar para o funcionário também como ser social, atentando para os seus problemas pessoais. No entanto, o próprio profissional deve cuidar para não misturar demais o ambiente profissional e o pessoal. Campos, que tem um escritório montado na própria casa, acredita que trabalhar no lar não é o ideal. “Se a pessoa não conhece os riscos que pode ter no trabalho, imagina como vai ser em casa”. Conforme ele, a empresa pode ser um estímulo para manter a regularidade da rotina, ainda que o contato com a família e a comodidade tenha suas vantagens.
*Com informações do Jornal do Comércio