Data: 23/04/2011
Pensilvânia (EUA) – é oficial: dormir é bom para você. Nada surpreendente, claro. Mas é o sono durante o dia (também conhecido como soneca, sesta ou, simplesmente, dormir com a cabeça apoiada nos cotovelos, babando nas mangas) que, de acordo com um estudo recente, poderia melhorar a saúde do seu coração. Pesquisadores do Allegheny College, na Pensilvânia, descobriram que um cochilo de 45 minutos a uma hora ajuda a baixar a pressão sanguínea após uma atividade estressante.
Muitos de nossos maiores empreendedores sempre proclamaram os benefícios de se tirar um tempinho longe do estresse diário. Winston Churchill (1874-1965), famoso principalmente por sua atuação como primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), foi quem cunhou por primeiro a expressão “cochilo revigorante”, alegando que uma soneca vespertina diária trouxe-lhe a clareza no pensamento da qual ele precisou para a vencer a guerra.
— Você deve dormir algum tempo entre o almoço e o jantar, e não há o que discutir – insistia Churchill.
Margaret Thatcher, 85 anos, primeira-ministra britânica de 1979 a 1990, ficou famosa por ordenar a suas ajudantes que não a perturbassem entre as 14h e 15h, deixando-a cochilar. O ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton fazia o mesmo diariamente, às 15h. Outros dorminhocos ilustres incluem o físico Albert Einstein (1879-1955), a ex-primeira dama norte-americana Eleanor Roosevelt (1884-1962) e o compositor alemão Johannes Brahms (1833-1897).
Para a maioria de nós, no entanto, ir para a cama depois do almoço é mais do que um pouco impraticável. Então o que você faz se quer uma bela sesta, puramente por razões medicinais? O primeiro lugar para onde ir é um parque. Embora seja melhor no verão, uma jaqueta acolchoada pode proporcionar o lugar ideal nessa época do ano.
Deixe seus olhos se fecharem conforme as luzes diminuem e, instantaneamente, você estará cochilando. Ou então pegue uma linha de ônibus ou de trem cujo itinerário leve longos 45 minutos, vista sua máscara para olhos e fones de ouvido e peça para a moça simpática sentada no banco ao lado para acordá-lo quando chegar no seu destino.
Agende suas reuniões mais chatas para o meio da tarde e, discretamente concentre-se, enquanto mantém a cabeça e o pescoço eretos, balançando a cabeça em intervalos de tempo demonstrando concordância. Se você tiver sorte, ninguém vai perceber.
‘Trata-se de uma prática em evolução’
Por e-mail, o ortopedista e traumatologista Carlos Roberto Campos, presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), comentou a pesquisa norte-americana:
Pioneiro: Como o senhor avalia o estudo?
Carlos Roberto Campos: Tirar o clássico cochilo depois do almoço, culturalmente utilizado em alguns países, constitucionalmente obrigatório em outros, transformou-se em modo de vida de inúmeras empresas em todo o mundo, nos Estados Unidos, Japão, China e Europa. Em nosso país, as iniciativas são poucas e restritas. Trata-se de uma prática em evolução e que está sendo construída a curtos passos, em função de aspectos culturais. Apesar do cochilo ser recomendável, é preciso ficar atento, porque para algumas pessoas, esta prática após o almoço e/ou no meio do dia pode ser devido a outros problemas de saúde, ou até mesmo por questões fisiológicas das pessoas, principalmente relacionada à digestão.
Pioneiro: Há alguma recomendação da medicina do trabalho em relação a proporcionar aos funcionários uma soneca depois do almoço?
Campos: O que normalmente recomendamos é que durante as jornadas de trabalho sempre haja um tempo disponível para a devida recuperação física e mental dos trabalhadores que tenham uma carga de trabalho com alta densidade de tarefas, movimentos repetitivos, posturas desconfortáveis, solicitação de cumprimento de metas e que possam originar fadiga mental e física. Utilizamos, como mecanismo de recuperação, as pausas com ou sem o uso da ginástica laboral e a soneca depois do almoço.
Pioneiro: Algumas empresas têm os chamados “durmódromos”. Qual o ganho da empresa?
Campos: Já tive oportunidade de trabalhar em empresa onde havia a prática da disponibilização de locais para que os trabalhadores pudessem tirar a sua soneca. O ganho sempre será positivo.
Pioneiro: E quais os benefícios para os funcionários?
Campos: Há vários estudos publicados e vários mitos e verdades. Uma soneca de apenas 10 minutos já tem bons resultados. Alguns alegam até que é o ideal. Há estudos que chegaram à conclusão de que o comportamento das pessoas que tiveram cinco minutos de sono foi muito similar ao das que não dormiram. Já as sonecas de 20 ou 30 minutos contribuíram para que os participantes apresentassem sonolência logo após acordarem, embora tenham progredido nas atividades cerca de uma hora e meia depois. Os especialistas no sono concluem que o sono de 10 minutos produziu os melhores benefícios com os menores efeitos colaterais. Alguns destes benefícios mantiveram-se até duas horas e meia após o cochilo.
Fonte: Jornal Pioneiro, com informações do The Guardian