Gripe A: Governo compra vacinas e pesquisas avançam

Gripe A: Governo compra vacinas e pesquisas avançam

A aquisição de 83 milhões de doses de vacina contra o vírus H1N1 pelo Ministério da Saúde (MS) abre um novo capítulo do combate à nova gripe, que ficou popularmente conhecida como gripe suína. Apesar de a virose, detectada pela primeira vez em abril de 2009 no México, ainda causar alerta em todo o mundo, a gravidade da doença levou a comunidade científica a aprofundar seus estudos e, dessa forma, acalmar governos e populações.

Não obstante, a Organização Mundial de Saúde (OMS) ainda define a virose, desde junho de 2008, como pandemia. Apesar de a gripe A (H1N1) ter matado, até 18 de dezembro, quase 10,6 mil pessoas em 208 países – segundo a OMS -, modelos estatísticos dão conta de que a gripe sazonal sozinha mata anualmente entre 250 mil e 500 mil pessoas no planeta. As preocupações atuais, portanto, giram mais em torno de certa imprevisibilidade do novo vírus, que já tem apresentado mutações, e do padrão de infecção, que costuma atingir os mais jovens.

Vacinação
Do total de doses compradas pelo MS, 40 milhões foram obtidas do laboratório inglês Glaxo Smith Kline (GSK) em novembro de 2009. Um segundo lote de 33 milhões foi encomendado ao Instituto Butantan, que já recebeu 600 mil doses no começo de janeiro do laboratório Sanofi-Pasteur – responsável por transferir a tecnologia de produção para o instituto. Os 10 milhões restantes virão do Fundo Rotatório de Vacinas da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).

A previsão é de que todas as doses cheguem ao Brasil até março, já que entre este mês e abril deverá ser feita a campanha de imunização – uma das maiores já registradas no país. As características do novo vírus, contudo, impõem atenção especial aos jovens entre 20 e 29 anos de idade, enquanto apenas os idosos com doenças crônicas como diabetes ou problemas cardíacos deverão receber a vacina.

Calcula-se que, para estes dois grupos, sejam reservadas 50 milhões de doses. Em reportagem de O Estado de S. Paulo, o diretor de Vigilância Epidemiológica do MS, Eduardo Hage, afirmou que não foi decidido ainda se os idosos saudáveis receberão também a vacina contra o vírus pandêmico. “A população acima de 60 anos teria imunidade, seja porque os mais idosos tiveram contato anterior com o vírus H1N1 ou pela vacinação sazonal. (…) [Além disso,] há possibilidade de que uma [vacina] interfira na outra”, disse.

Logística
No dia 5 de janeiro, o governador do Estado de São Paulo, José Serra, informou que a fabricação das vacinas contra a gripe A deve terminar em julho de 2011. Ao mesmo tempo, o planejamento brasileiro em torno da ameaça pandêmica pode sofrer a influência das experiências de governos e pesquisadores dos países do Norte, onde o inverno começou há pouco.

Na França, o governo vendeu parte do estoque de 94 milhões de doses, algo parecido com o que aconteceu na Alemanha, onde o total de 50 milhões de doses encomendadas ainda não foi recebido e, mesmo assim, parte já começou a ser revendida. Segundo as autoridades francesas, apenas 5 milhões da população de 60 milhões de franceses foram vacinados, tanto pela baixa procura quanto por pesquisas que mostram que apenas uma dose seria suficiente – e não duas, como se pensava antes.

Novos desafios
O tempo, aliás, tem trabalhado a favor de novas investigações que, inclusive, começam a por em xeque suposições amplamente assumidas no fervor dos acontecimentos. Um estudo realizado por pesquisadores ingleses e publicado na revista British Medical Journal, por exemplo, questiona a real eficácia do Oseltamivir, que secretarias e ministérios de saúde de todo o mundo estocaram temendo um surto ainda maior da nova doença. Segundo o trabalho, não há dados sólidos suficientes para a recomendação do uso do medicamento na prevenção de complicações graves da influenza.

Por sua vez, uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) liderada pelo patologista Thais Mauad só há pouco conseguiu aprofundar as investigações sobre como o organismo reage à presença do H1N1 – principalmente porque agora a autópsia de vítimas do vírus pode ser usada como recurso. Segundo as análises, o corpo humano responde agressivamente ao vírus, com anticorpos que acabam por lesionar o pulmão. Além disso, o acesso de bactérias até as funções pulmonares é facilitado pela doença.

Sem embargo, para o site último Segundo, Thais afirmou que 20 dos 21 corpos em que foi feita a autópsia eram de pessoas que estavam grávidas, obesas ou tinham algum tipo de doença no coração ou no pulmão.

Por |2010-11-01T02:48:39-02:001 de novembro de 2010|Notícias|