Roberto Raphael Weber (In Memoriam)

Roberto Raphael Weber (In Memoriam)

O médico do trabalho Roberto Raphael Weber teve uma vida pessoal e profissional digna, longa e rica, tendo vivido 83 anos. Como bom gaúcho e descendente de alemães, fez-se pelo trabalho, pela obstinação, pela disciplina, em época de auto-didatismo e de baixo reconhecimento da Medicina do Trabalho. Aprendemos a respeitá-lo já na época em que aproximou a Medicina da Aviação com a Medicina do Trabalho, em função das necessidades e desafios que enfrentou e bem superou na Varig, em sua sede em Porto Alegre.

Porém seu trabalho de mais destaque deu-se exatamente na circunstância de governos militares (de gaúchos como Médici e Geisel), principalmente na gestão do Ministro do Trabalho, o também gaúcho de São Leopoldo, Engenheiro e Deputado Federal Arnaldo Costa Prieto. Foi neste contexto de governos fortes e determinados, que a Segurança e Saúde no Trabalho foi prestigiada e encarregada de modificar o quadro brasileiro de acidentes do trabalho, com a adoção da estratégia de responsabilizar os empregadores pela prevenção, e de enfocar tecnicamente o desafio da redução das estatísticas pela criação de expertise necessária, multi e interprofissional. Foi nesta época, a partir de 1972, que dispositivos da CLT se tornaram regulamentados pela conhecida Portaria 3214/72, criada para garantir o cumprimento Meta IV do Programa Nacional de Valorização do Trabalhador – PNVT, no referente à obrigatoriedade de Serviços Especializados em Segurança do Trabalho e em Medicina do Trabalho, hoje SESMTs.

Tive o desafio e o privilégio de trabalhar ao lado de Roberto Weber, em posições complementares na Fundacentro (1972 a 1976), como Chefe da Seção de Medicina do Trabalho e depois Diretor Técnico, sob a superintendência de Moacyr Gaya. Fundacentro e Ministério do Trabalho esforçaram-se muito para viabilizar a Meta IV do PNVT, e a implantação definitiva dos SESMTs nas empresas, seguindo, à época, o espírito da Recomendação no. 112, da OIT, sobre “Serviços Médicos em Empresas”. Weber e eu nos encontrávamos com muita freqüência, e apesar das diferenças institucionais, tive o prazer de conhecer um Weber dinâmico, teimoso, trabalhador, que vivia quase onipresente no Brasil inteiro.

Mais adiante, estava Weber sonhando e trabalhando pela regulamentação técnica dos artigos da CLT relativos à SST. Até onde eu sei, o estudo, o desenvolvimento e a elaboração das versões originais das Normas Regulamentadoras – NRs, tiveram o entusiasmo, a garra, a determinação de Weber, um sonhador comprometido, que em Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo ou Brasília, somente pensava “naquilo” , dia e noite. Espírito de guerreiro alemão e gaúcho.

Tenho outros registros pessoais de convivência com Weber, até em circunstâncias internacionais, como numa viagem que fizemos juntos, de trem, de Londres a Brighton, para participarmos de um Congresso da ICOH (1975), em que o Brasil participou em grande estilo, graças à incontestável liderança de Oswaldo Paulino.

Hoje, quando esta geração de pessoas sérias e decentes – certamente não perfeitas – vai-se indo deste mundo, nós, os que tivemos o privilégio de conviver e aprender com eles, ficamos tristes porque essa geração está se estingüindo. Resta-nos a alegria de saber que o que fizeram de bem para o Brasil, para a Saúde e Segurança dos Trabalhadores, para a Medicina do Trabalho, não se apagará jamais. Cabe a nós cultivarmos sua memória, respeitarmos o passado, mas, também, ajudarmos a construir o presente, e se possível, participarmos deste esforço de Weber, ao lado de Oswaldo Paulino, Diogo Pupo Nogueira, Bernardo Bedrikow, Joaquim Augusto Junqueira – entre outros – para que não tenhamos saudade do passado. Apenas boas lembranças, bons registros, e referências indeléveis e eternas para a construção de um futuro melhor.

Obrigado, Weber, pelo que você fez pelo Brasil, pela Saúde e Segurança do Trabalho, pelos trabalhadores, pelos médicos do trabalho!

René Mendes (dezembro de 2009)

Por |2009-12-11T23:33:13-02:0011 de dezembro de 2009|Notícias|