Fundacentro inicia análise de sílica em lapidação de quartzo

Fundacentro inicia análise de sílica em lapidação de quartzo

Data: 13 de junho

A Fundacentro iniciou, em maio, a análise das primeiras amostras colhidas na atividade de lapidação de quartzo em Corinto/MG. A análise da sílica cristalina por difração de raios-X foi acompanhada pela pesquisadora da Universidade de Lille, Nathalie Cherot Kornobis, no Centro Técnico Nacional – CTN, em São Paulo.

Segundo os pesquisadores da Fundacentro, Lenio Amaral, de Minas Gerais, e Ana Maria Tibiriçá Bon, do CTN, os primeiros resultados indicam exposição elevada à sílica livre cristalizada gerada por máquinas, equipamentos e processos produtivos.

As primeiras coletas foram realizadas por Amaral em três empresas em março. Nessas visitas, foi possível fazer uma avaliação preliminar da atividade e entender as operações mais importantes. O que foi aprofundado em novas idas a campo.

“Encontramos máquinas e ferramentas desprotegidas. Os trabalhadores usam EPIs eventualmente. Não há treinamento. Alguns ambientes são abertos, outros não. Não há sistema de ventilação local exaustora em espaços semiconfinados. Falta manutenção de máquinas e equipamentos. Diante desse processo, há geração de sílica sem controle”, afirma Lenio Amaral. Somente no processo de serra de corte é usada água, mas há geração de névoa que pode conter sílica livre.

Novas coletas foram realizadas em abril, nos dias 28 e 29, com a participação de Amaral e de Ana Maria Tibiriçá Bon. Outras quatro empresas de lapidaria foram visitadas. “Coletamos a poeira na fração respirável para determinação da concentração de sílica cristalina. Nós amostramos 75% da jornada de trabalho”, explica Ana Maria.

O trabalho de campo ainda aconteceu em 19 e 20 de maio, com coletas em mais quatro empresas. Mais uma ação está prevista para julho, nos dias 21 e 22. “Nesse trabalho, são coletadas amostras pessoais conforme a Norma de Higiene Ocupacional – NHO 08. Os instrumentos são colocados próximos da zona respiratória, de modo a não imobilizar o trabalhador nem causar perigo de acidente”, continua a pesquisadora.

Os pesquisadores buscam ter pelo menos três amostras de cada operação ou função. A pesquisa de campo em diferentes etapas permite voltar para ver se os procedimentos de trabalho ocorrem da mesma maneira e se a exposição é contínua. Também avaliam se todas as empresas utilizam os mesmos processos e matérias-primas.

Já as análises das amostras realizadas pela Fundacentro em São Paulo, que continuam em andamento, seguem a NHO 03 e o método de determinação de sílica. As amostras são ambientadas e pesadas para se calcular a massa da fração respirável da poeira e a concentração. A análise da sílica cristalina se dá por difração de raios-X conforme método padronizado pela instituição.

Avaliação Médica

As visitas a Corinto também abrangem a parte médica, que conta com a participação do pesquisador da Fundacentro, Eduardo Algranti. A Vigilância Epidemiológica de Corinto/MG convoca os trabalhadores, que são atendidos no Centro de Saúde do município.

A avaliação clínica é feita pela médica pneumologista Ana Paula Scalia Carneiro, do Serviço Especializado em Saúde do Trabalhador – SEST do Hospital das Clínicas da UFMG, que coordena a pesquisa.

Já os médicos Eduardo Algranti e Nathalie Kornobis realizam exames para avaliar o óxido nítrico exalado pelos trabalhadores. Também é feita coleta de sangue para determinar os marcadores inflamatórios e raios-X de tórax. “Atendemos 62 trabalhadores, dos quais 40 entraram no protocolo, ou seja, fizeram todos os exames. Há trabalhadores com silicose grave ou moderada”, conta Algranti.

“Ao final, nossa intenção como Programa Nacional de Silicose, com esses dados nas mãos, é avaliar juntamente com a equipe do trabalho e as autoridades do município formas de prevenção da doença”, conclui o pesquisador.

Mas pequenas mudanças já começam a ocorrer. “Alguns dos lapidários estão tentando melhorar o processo. Quatro empresas passaram a trabalhar em áreas abertas e com um espaço maior entre as máquinas. é o início de um processo de diminuição de exposição. Um de nossos compromissos é ajudá-los a montar um processo de controle”, completa Lenio Amaral.

Visita Internacional

Nos dias 8 e 9 de maio, a pesquisadora francesa Nathalie Cherot Kornobis esteve na Fundacentro, em São Paulo. Na ocasião, a médica conheceu o setor de microscopia da instituição, onde viu os instrumentos de coleta das frações inalável, torácica e respirável. Também pôde acompanhar os procedimentos de análise gravimétrica, da NHO 03, além da análise por difração de raios-X. Visitou ainda o ambulatório da Coordenação de Saúde no Trabalho e os laboratórios da Coordenação de Segurança no Processo de Trabalho.

“Visitei vários laboratórios e uma equipe formidável com muitas coisas a fazer e muitas perspectivas”, afirmou Nathalie Kornobis. Já sobre o trabalho realizado em Corinto, explicou que tem sido feita uma pesquisa detalhada sobre os postos de trabalho. é necessário melhorar as condições de trabalho e prevenir a exposição dos trabalhadores à sílica. Essa experiência em Corinto tem permitido que conheça outras faces do trabalho.

Confira as imagens da visita no Flickr da Fundacentro, no álbum do CTN.

A pesquisadora da Universidade de Lille também participou de uma reunião com a presidenta da Fundacentro, Maria Amelia de Souza Reis, e os pesquisadores Eduardo Algranti e Ana Maria Tibiriçá Bon. Os pesquisadores apresentaram um panorama do que têm encontrado em Corinto/MG.

Pequenos empresários exploram a atividade de lapidação de quartzo. “Temos de pensar em ação efetiva que não cause caos na economia local”, explicou Algranti. “O estudo conta com um grupo multidisciplinar. Quando tivermos todos os dados vamos chamar todos os envolvidos no processo”, completou Ana Maria.

Já Nathalie Kornobis comparou a realidade que tem visto no Brasil, onde tudo é minimizado, com a que vivencia na França, onde pequenos problemas ganham repercussão.

Fonte: Fundacentro

Por |2014-06-13T09:58:50-03:0013 de junho de 2014|Notícias|